BRASÍLIA (Reuters) - O Banco Central vê o déficit em transações correntes do país caindo a 41 bilhões de dólares em 2016, contra rombo estimado em 62 bilhões de dólares em 2015, numa melhora puxada fundamentalmente pelo desempenho da balança comercial em meio ao cenário de recessão e dólar elevado.
Para o próximo ano, o BC vê superávit comercial de 30 bilhões de dólares, o dobro do que deve ser observado neste ano, conforme informou nesta segunda-feira.
Em coletiva de imprensa, o chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel, chamou a atenção para a expectativa de estabilização nas exportações em 2016 ante 2015, após queda observada neste ano, afetada pelo mergulho no preço das commodities.
"Boa parte das nossas commodities estava com preço mais baixo, isso tira um pouco de espaço para que recuos venham novamente a se repetir", disse. Ele avaliou ainda que, em relação às importações, novo declínio deve ser visto em 2016, na esteira da fraca atividade econômica.
O BC enxerga exportações de 190 bilhões de dólares tanto no ano que vem como neste ano, contra 224,1 bilhões de dólares em 2014. Em relação às importações, vê uma soma de 160 bilhões de dólares em 2016, contra 175 bilhões de dólares em 2015 e 230,6 bilhões de dólares no ano passado.
Com a balança comercial ajudando a diminuir o saldo negativo em conta corrente, a expectativa é que esse déficit seja totalmente coberto pelo Investimento Direto no País (IDP), que deve chegar, pelas contas do BC, a 60 bilhões de dólares em 2016.
Segundo Maciel, o fluxo esperado de IDP segue "bastante expressivo", ainda que 6 bilhões de dólares mais modesto do que o enxergado para 2015, acrescentando que esses investimentos têm se mostrado consistentes apesar da perda do grau de investimento do Brasil pelas agências Standard & Poor's e Fitch.
"Boa parte disso decorre do fato de que esses investimentos têm uma perspectiva de mais longo prazo. O país continua sendo um mercado atrativo com 200 milhões de consumidores, o preço dos ativos recuou", disse.
Em 2015, o BC estima que um IDP de 66 bilhões de dólares vá cobrir um rombo em transações correntes de 62 bilhões de dólares. As duas cifras foram revisadas pelo BC, que antes via déficit de 65 bilhões de dólares e um IDP de igual montante no ano.
A melhora no déficit reflete o cenário de intensa derrocada econômica e dólar mais forte ante o real, que impacta as importações realizadas pelo país, mas também os gastos de brasileiros no exterior e as remessas de lucros e dividendos.
Pesquisa Focus do próprio BC, que ouve semanalmente uma centena de economistas, mostra que as projeções são de queda de 3,70 e 2,80 por cento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2015 e 2016, respectivamente. [nL1N14A0EU]
NOVEMBRO
O resultado de novembro da conta corrente, também divulgado pelo BC nesta manhã, ilustrou essa dinâmica, vista desde o início do ano. O rombo foi de 2,931 bilhões de dólares no mês, queda de 68 por cento sobre igual mês de 2014. A melhora no resultado se deveu principalmente pelo saldo positivo de 958 milhões de dólares da balança comercial, contra um déficit de 2,724 bilhões de dólares um ano antes.
O resultado das transações correntes veio melhor que o déficit de 4,2 bilhões estimado por analistas em pesquisa Reuters e foi coberto pelo IDP, que alcançou 4,930 bilhões de dólares em novembro, em linha com a expectativa de ingresso de 5,0 bilhões de dólares.
Com isso, no acumulado de janeiro a novembro, o déficit em conta corrente foi a 56,406 bilhões de dólares, contra 92,528 bilhões de dólares no mesmo período de 2014.
(Por Marcela Ayres)