Por Eduardo Simões e Ricardo Brito
(Reuters) - O candidato do PSL, Jair Bolsonaro, está estável, embora seu quadro seja grave, após ter passado por uma cirurgia de emergência considerada bem-sucedida depois de ter sido esfaqueado durante ato de campanha na cidade mineira de Juiz de Fora.
Líder na corrida presidencial, Bolsonaro sofreu lesões nos intestinos grosso e delgado e em uma veia abdominal, em decorrência de um único, porém profundo, golpe de faca.
Um vídeo, feito por celular, mostrou o momento do ataque. Bolsonaro era carregado nos ombros por simpatizantes, quando sofre a facada na região do abdômen. Outro vídeo o mostrou sendo carregado após sofrer o ataque, com o que parecia ser um pano sobre o local do ferimento.
Os médicos que participaram da cirurgia disseram que o intestino delgado foi costurado, mas não foi feita uma emenda na área atingida no intestino grosso, optando-se pela ligação com uma bolsa externa. A hemorragia causada pela lesão na veia, apontada como a mais grave pelos cirurgiões, foi estancada.
"Era uma perda sanguínea grande no abdômen por essa lesão vascular. Ele chegou em estado de choque e essa era a principal lesão que o colocava em risco de vida", disse o médico Luiz Henrique Borsato, um dos que participou da cirurgia no candidato do PSL. Ele classificou como "satisfatória" as primeiras horas de recuperação pós-operatória.
"O intestino delgado foi costurado e o intestino grosso não. A gente retirou a parte que estava lesada e a gente não fez a emenda do intestino. A gente optou por fazer a colostomia de caráter temporário", disse Borsato. Na colostomia, parte do intestino é colocado em uma bolsa externa na parede abdominal. Posteriormente, Bolsonaro terá de passar por nova cirurgia para reverter o procedimento.
Os médicos afirmaram que o tempo mínimo de hopitalização deve ser de uma semana a 10 dias. Sem querer prever um prazo para a recuperação do deputado, disseram que no momento ele não tem condições clínicas para ser transferido a outro hospital. Uma equipe do Hospital Sírio-Libanês voará de São Paulo para acompanhar o caso e, quando Bolsonaro estiver estabilizado, ele poderá ser transferido.
Segundo os médicos, o candidato se encontrava consciente e respirando espontaneamente. Mas ressaltaram que há risco de infecção e, por isso, ele está sendo tratado com antibióticos.
INDIGNAÇÃO E REPÚDIO
O candidato a vice-presidente na chapa encabeçada pelo deputado, general Hamilton Mourão, classificou como "episódio covarde" e um "crime político" o esfaqueamento.
"É um crime político, não tenho a mínima dúvida, Ele não foi enfiar a faca porque queria assaltar", acrescentou.
Apesar da indignação, Mourão disse que o momento é de reduzir as tensões. "Compete a todos os brasileiros se acalmarem e entender que o processo eleitoral é democrático. Não há lado A ou B prejudicado."
Um suspeito apontado como autor do ataque, Adelio Bispo de Oliveiro, foi preso em flagrante e foi levado para a sede da Polícia Federal na cidade mineira. A PF disse que abriu inquérito para apurar o esfaqueamento e que Bolsonaro contava com a escolta de policiais federais quando foi atacado. Ele teria confessado o crime, de acordo com a GloboNews.
O suposto agressor foi filiado ao PSOL entre 2007 e 2014, mas o partido divulgou nota repudiando o "inaceitável atentado sofrido por Jair Bolsonaro".
Outros candidatos à Presidência anunciaram a paralisação de suas campanhas e repudiaram o atentado.
"A violência contra o candidato Jair Bolsonaro é inadmissível e configura um duplo atentado: contra sua integridade física e contra a democracia", disse a presidenciável da Rede, Marina Silva.
O candidato do PDT, Ciro Gomes, repudiou a violência "como linguagem política". "Solidarizo-me com meu opositor e exijo que as autoridades identifiquem e punam o ou os responsáveis por esta barbárie."
O presidenciável do PSDB, Geraldo Alckmin, disse esperar que Bolsonaro se recupere rapidamente. "Política se faz com diálogo e convencimento, jamais com ódio."
O candidato a vice-presidente pelo PT, Fernando Haddad, classificou como "lastimável" o ataque contra o deputado. "Repudio totalmente qualquer ato de violência e desejo pronto restabelecimento a Jair Bolsonaro... nós democratas precisamos garantir um processo pacífico."
O presidente Michel Temer também se manifestou afirmando que o ataque foi "lamentável para nossa democracia".
"É intolerável que nós vivemos em um Estado democrático de direito que não haja a possibilidade de uma campanha tranquila", disse Temer em evento no Palácio do Planalto. "Que as pessoas que hoje estão fazendo campanha percebam que a tolerância é uma derivação da própria democracia."
As presidentes do Supremo Tribunal Federal (STF), Cármen Lúcia, e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Rosa Weber, mostraram preocupação e repúdio ao ataque.
"O Tribunal Superior Eleitoral repudia toda e qualquer manifestação de violência, seja contra eleitores, seja contra candidatos ou em virtude do pleito", disse Rosa Weber.
Na mesma linha, Cármen Lúcia se disse preocupada "com a garantia das liberdades dos candidatos e dos eleitores".
O ataque a Bolsonaro é mais um episódio de violência ligada à política registrado recentemente no país. No início do ano, um veículo que fazia parte de uma caravana promovida pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi alvo de tiros no Paraná.
(Reportagem adicional de Tatiana Ramil, em São Paulo, e Lisandra Paraguassu e Maria Carolina Marcello, em Brasília)