Investing.com - A edição desta semana da revista britânica The Economist, traz como matéria principal os riscos de uma eventual vitória de Jair Bolsonaro na corrida eleitoral. Como título “Jair Bolsonaro, a mais recente ameaça da América Latina”, a publicação avalia que o deputado por vir a ser um presidente desastroso.
A matéria começa com o famoso ditado “Deus é brasileiro” e cita também as belezas naturais e da música nacional, trazendo a ideia de que o país de fato é abençoado. “Hoje em dia os brasileiros devem se perguntar se, como no filme de mesmo nome, se Deus saiu de férias. A economia está um desastre, as contas públicas sob pressão e a política completamente poder”, descreve a revista, citando também que sete cidades brasileiras estão entre as mais violentas do mundo.
Bastião do liberalismo, a The Economist conta que as eleições de outubro são uma grande chance para o país começar de novo, mas avalia que “a vitória de Jair Bolsonaro, um populista de direita, o risco é que a situação piore ainda mais”. A revista ainda destaca o sobrenome do meio de Bolsonaro, Messias, que, nas palavras da reportagem, apesar de prometer a salvação, é uma ameaça para o Brasil e para a América Latina.
Para a revista, Bolsonaro é o último de uma lista de populistas, que começa com Donald Trump, segue com Rodrigo Duterte nas Filipinas e pela coalização de esquerda e direita com Matteo Salvini na Itália. Na América Latina, é citado também Manuel López Obrador, rebelde de esquerda que assumiu a presidência do México em dezembro. Para a The Economist, uma vitória de Bolsonaro pode colocar em risco a democracia no maior país da América Latina.
A reportagem explica que o modelo dos populistas é recorrer a queixas semelhantes da população, sendo a economia fracassada uma delas: “na pior recessão de sua história, o PIB per capita encolheu 10% entre 2014-16 e ainda não se recuperou. A taxa de desemprego é de 12%”, diz a revista que completa que a corrupção da elite do poder é outra queixa, citando a operação Lava Jato.
A The Economist comenta ainda o fato de dezenas de políticos estarem sob investigação, destacando que o presidente Michel Temer só não está na lista porque o Congresso não aprovou a abertura de processo pelo Supremo Tribunal Federal (STF). A prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva também é lembrada, o que o impediu de disputar as eleições deste ano.
“O senhor Bolsonaro explorou a fúria de forma brilhante. Até os escândalos da Lava Jato, ele era um congressista de sete mandatos do estado do Rio de Janeiro, tendo uma longa história de ser grosseiramente ofensivo”, descreve a matéria citando o episódio com a deputada Maria do Rosário (PT) de que a estupraria por ela ser muito feia. A The Economist também chama a atenção para declarações como “preferiria um filho morto a um gay” e também que as pessoas que vivem em assentamentos quilombolas são gordos e preguiçosos.
Para a revista, essa disposição de quebrar tabus está sendo tomada como prova de que ele é diferente dos políticos atuais da capital, Brasília.
“Para os brasileiros desesperados para se livrarem de políticos corruptos, traficantes de drogas e assassinos, Bolsonaro se apresenta como um xerife sensato. Cristão evangélico, ele mistura o conservadorismo social com o liberalismo econômico, ao qual ele se converteu recentemente”, conta a publicação comentando a contradição entre o atual discurso e sua atuação ao longo da vida como parlamentar.
A The Economist fala também de Paulo Guedes, conselheiro econômico do deputado, que se formou na Universidade de Chicago, bastião de ideias de livre mercado. Entre as propostas de Guedes, a revista cita a privatização de todas as estatais brasileiras a simplificação brutal dos impostos. Outra proposta de Bolsonaro destacada é a redução do número de ministérios de 29 para 15, colocando militares no comando de alguns deles.
A reportagem destaca que essa fórmula está ganhando apoio, citando as recentes pesquisas que o colocam com 28% das intenções de votos. “Este mês ele foi esfaqueado enquanto fazia campanha, o que o colocou em um hospital. Isso só o tornou mais popular, deixando fora de uma avaliação mais minuciosa pela mídia e do ataque dos adversários”.
Para a publicação britânica, caso o segundo turno seja com Fernando Haddad (PT) a tendência é que muitos eleitores de classe média e alta, que culpam o PT e Lula por todos os problemas do Brasil, passem apoiar a candidatura de Bolsonaro.
A revista avalia as visões sociais não liberais de Bolsonaro e sua admiração pela ditadura como preocupantes, lembrando que, em seu voto para destituir a ex-presidente Dilma Rousseff, fez uma dedicatória a um militar responsável por mais de 500 casos de tortura e 40 assassinatos sob o regime militar que esteve vigente no Brasil entre 1964 e 1985.
“O companheiro de chapa de Bolsonaro é Hamilton Mourão, um general aposentado. No ano passado, enquanto estava de uniforme, pensou que o exército poderia intervir para resolver os problemas do Brasil. A resposta de Bolsonaro ao crime é, na verdade, matar mais criminosos, embora, em 2016, a polícia tenha matado mais de 4.000 pessoas”, conta a revista.
A The Economist lembra que a América Latina já experimentou um caso de mistura de uma política autoritária e com economia liberal, caso de Augusto Pinochet, que governou o Chile entre 1973 e 1990, também aconselhado pelo livre mercado dos Chicago Boys: “Eles ajudaram a estabelecer o terreno para a prosperidade relativa de hoje no Chile, mas a um custo humano e social terrível. Os brasileiros têm um fatalismo sobre a corrupção, resumido na frase “rouba, mas faz”. Eles não deveriam se apaixonar por Bolsonaro, cuja frase poderia ser “eles torturaram, mas agiram””.
A revista destaca ainda que a América Latina conhece todos os tipos de homens fortes, e que, para a publicação, maioria deles terríveis, dando como recente exemplo a Venezuela e a Nicarágua.
“Bolsonaro pode não ser capaz de converter seu populismo em ditadura ao estilo de Pinochet, mesmo que quisesse. Mas a democracia do Brasil ainda é jovem. Até mesmo um flerte com autoritarismo é preocupante. Todos os presidentes brasileiros precisam de uma coalizão no Congresso para aprovar a legislação. Bolsonaro tem poucos amigos políticos. Para governar, ele poderia ser levado a degradar ainda mais a política, potencialmente pavimentando o caminho para alguém ainda pior”, opina o artigo da publicação britânica.
Para a The Economist, o brasileiro não deveria cair nas promessas vãs de um político a esperança que ele resolva todos os seus problemas, devendo sim perceber que a tarefa curar a democracia e reerguer a economia não será fácil e nem rápida. A revista cita avanços, como a proibição de doação de empresas para os partidos políticos e o congelamento de gastos federais, mas destaca que mais reformas são necessárias e que Bolsonaro não é o homem que fará isso.