Por Lisandra Paraguassu e Ricardo Brito
BRASÍLIA (Reuters) - O governo do presidente Jair Bolsonaro prepara um pente-fino nas movimentações financeiras dos últimos 15 dias da gestão Michel Temer, especialmente na liberação de recursos por parte dos ministérios, e também nas nomeações e exonerações de pessoal no último mês, disse nesta quinta-feira o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, depois da primeira reunião ministerial do novo governo.
"O alto volume causou estranheza e nós vamos acompanhar”, disse Onyx, ao destacar que Bolsonaro pediu a cada ministro um relatório para saber para onde foram destinados os recursos na reta final do governo Temer.
Segundo Onyx, os ministros foram orientados, durante a reunião ministerial, a fazer uma revisão de todas as liberações financeiras, assim como das exonerações e nomeações.
Na quarta-feira, Bolsonaro elogiou, em sua conta no Twitter (NYSE:TWTR), a decisão da ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, de suspender 40 milhões de reais em contratos sem licitação assinados no apagar das luzes do governo Temer.
O ministro voltou à decisão do governo de exonerar todos os funcionários em cargos em comissão para verificar se existem ligações com os ex-governos petistas. A Casa Civil demitiu ontem 320 servidores e, durante a reunião, foi recomendado que os demais ministérios façam ações semelhantes.
"Este conceito de que precisamos rever está perpassando todo o governo, até para desaparelhar e permitir que o governo Bolsonaro possa executar suas políticas", afirmou.
Onyx negou que seja uma "caça às bruxas", mas ressaltou que é preciso "dar um basta" nas "ideias socialistas e comunistas" que dominaram o governo federal nos últimos 30 anos.
"Justamente para não ter caça às bruxas que exoneramos todos. O primeiro critério para ficar será competência. Depois será indicação, como chegou, quem indicou. Vai perpassar todos ministérios. Não há sentido ter pessoas que defendem outra ideologia e outro sistema político", defendeu.
PREVIDÊNCIA
Onyx informou ainda que o ministro da Economia, Paulo Guedes, fará uma apresentação sobre a proposta de reforma da Previdência ao presidente Jair Bolsonaro na próxima semana.
Questionado sobre as dificuldades elencadas por Guedes em seu discurso de posse, Onyx afirmou que a única coisa a dizer nesse momento é que o governo fará a reforma.
"Só uma palavra, vamos fazer a reforma da Previdência. Ponto", respondeu Onyx sobre o teor da reforma.
Já a apresentação das 50 medidas iniciais que serão anunciadas pelo governo --duas por ministério, como foi encomendado aos ministros por Bolsonaro-- acabou adiada. Na próxima terça-feira haverá uma segunda reunião ministerial em que o governo deve revisá-las e preparar um cronograma de anúncio.
Outra decisão tomada nesta reunião foi uma revisão dos programas de concessões e também dos imóveis pertencentes à União.
O ministro afirmou já ter informações preliminares de que há 700 mil imóveis de propriedade da União no país e questionou os custos de manutenção deles e até mesmo o fato de algumas repartições públicas federais, ainda assim, alugarem espaços para se instalarem.
Já sobre as concessões, Onyx afirmou que ministros envolvidos no programa de concessões avaliarão quais serão destinadas à iniciativa privada.
Mais cedo, nas redes sociais, Bolsonaro disse que “rapidamente” será possível atrair investimentos iniciais em torno de 7 bilhões de reais, com concessões de ferrovia, 12 aeroportos e quatro terminais portuários.
Ao ressalvar que não tinha visto a declaração de Bolsonaro nas redes sociais, Onyx disse que já existem algumas coisas que estão prontas para serem assinadas.
“Tudo isso vai ser sistematizado e na próxima terça poderemos discutir sobre isso”, disse.
CONGRESSO
Apesar do anunciado apoio do PSL, partido do presidente, à reeleição do atual presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), Onyx disse que Bolsonaro reafirmou, na reunião, que o governo não vai interferir nas decisões sobre a sucessão às presidências da Câmara ou do Senado.
“Todos os governos que tiveram grau alto de intervenção erraram”, disse ele, ao destacar que Bolsonaro vem “surpreendendo” pelo diálogo e conversa, ao contrário do que diziam os críticos.