A homologação do acordo de delação premiada do senador Delcídio do Amaral (MS) pelo ministro do Supremo Tribunal Federal, Teori Zavascki, e a divulgação do áudio em que o ministro da Educação, Aloízio Mercadante, oferece ajuda ao senador repercutiram ao longo de todo o dia entre as lideranças partidárias no Senado. O senador está em processo de desfiliação do PT.
Na oposição, o líder do DEM, senador Ronaldo Caiado (GO), considerou que o ato de Mercadante foi semelhante ao do próprio Delcídio, que foi preso após oferecer propina e um plano de fuga para que o ex-diretor da Petrobras (SA:PETR4), Nestor Cerveró, não fechasse acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal.
“Pau que dá em Chico dá em Francisco. O mesmo argumento utilizado pela Justiça para prender o senador Delcídio do Amaral deve ser usado para o caso do ministro Aloizio Mercadante. A matéria mostrou que Mercadante ofereceu benefícios para o senador Delcício não demolir o governo com as informações que tinha conhecimento. Não sou do Judiciário, o que defendo é a isonomia de tratamento para ambos”, disse Caiado, se referindo à matéria da revista Veja que divulgou o áudio da oferta de Mercadante.
O ministro da Educação procurou o assessor mais próximo a Delcídio do Amaral, Eduardo Marzagão, para oferecer ajuda e sugerir que o senador não firmasse acordo de delação premiada também com o Ministério Público. Mercadante, no entanto, negou em entrevista coletiva que tenha infringindo a lei e garantiu que sua posição foi de solidariedade ao senador.
Para o líder do PSDB, senador Cássio Cunha Lima (PB), “tudo isso agrava a situação do governo e apressa o impeachment” da presidenta Dilma Rousseff. Ele espera que a instalação da comissão processante do impedimento ocorra ainda esta semana para que ela possa começar a funcionar logo após a Semana Santa.
“É mais um elemento que desmoraliza ainda mais um governo que perdeu a credibilidade a confiança do povo brasileiro. Basta ver as manifestações avassaladoras do último domingo. É uma situação vexatória, é humilhante para a presidente da República ter que conviver com um ministro com esse nível de comprometimento. Não restaria outra alternativa senão a demissão do ministro, mas a fragilidade é tamanha que parece que o preço da desmoralização terá que ser pago com a manutenção do ministro Mercadante à frente da pasta que ele comanda”, definiu Cunha Lima.
O líder do governo no Senado, Humberto Costa (PT-PE), defendeu o ministro e as explicações dadas por ele em entrevista coletiva. “O ministro Mercadante respondeu bem na entrevista coletiva que ele deu. Eu entendi bem que ele não estava obstruindo o trabalho da Justiça, ele estava discutindo uma tese que o Senado poderia abarcar ou não e ficou absolutamente claro que não houve nenhuma oferta de dinheiro ou de ajuda que não fosse algo republicano. Politicamente é claro que um fato como esse não é um fato positivo, mas eu acho que ele foi muito bem nas suas explicações, nas suas respostas”, disse.
Costa lembrou que caberá a Delcídio apresentar provas das acusações que fez em sua delação. Para ele, a delação tem “muito uma história de ouvi dizer, ouvi falar, sem que sejam apresentadas provas quanto a isso” e as partes mais graves do que foi dito pelo senador já tinham sido publicadas previamente em vazamentos à imprensa.