Por Tatiana Ramil
SÃO PAULO (Reuters) - Centenas de milhares de manifestantes foram às ruas das principais capitais do país e cidades do interior neste domingo, de maneira geral de forma pacífica, para protestar contra o governo e pedir o impeachment da presidente Dilma Rousseff, em meio a uma das mais graves crises econômica e política do país em décadas.
No primeiro grande protesto deste ano contra Dilma, os organizadores da manifestação convocaram atos em centenas de cidades de todas as regiões do país, com maior adesão em relação aos últimos protestos de 2015. Segundo duas fontes do governo, que falaram à Reuters sob condição de anonimato, a manifestação deste domingo pode ser maior do que o ato de março do ano passado, que reuniu 1 milhão de pessoas.
A magnitude das manifestações deste domingo é considerada decisiva para a abertura de um processo de impeachment no Congresso contra Dilma.
"A presidente está sem base de apoio para governar, sem governabilidade alguma. Acredito que ela estará ainda mais enfraquecida após as manifestações deste domingo", disse à Reuters em São Paulo um dos líderes do Movimento Brasil Livre (MBL) Fernando Holiday.
Os manifestantes vestiam, em sua maioria, as cores verde e amarela e carregavam cartazes contra Dilma, contra a corrupção e em favor do juiz Sérgio Moro, que comanda as investigações da operação Lava Jato.
O senador Aécio Neves, candidato do PSDB derrotado por Dilma nas eleições de 2014, esteve de manhã no protesto em Belo Horizonte.
"Em paz, em harmonia, as famílias vieram para as ruas dizer que o Brasil merece algo melhor", afirmou ele. "Hoje, as pessoas estão nas ruas dizendo: chega, basta! Os caminhos são três colocados à nossa frente: o impeachment da presidente da República, a cassação da chapa pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) ou a renúncia da presidente da República. Uma dessas três saídas permitirá ao Brasil voltar a sonhar com um futuro melhor."
No Rio, a concentração foi na praia de Copacabana, após uma madrugada de chuva na cidade. "Estou aqui com minha mulher e meus filhos para mostrar que estamos indignados com o presente e precisamos fazer algo para o futuro dos nossos filhos e jovens", disse o comerciante Carlos Andrade.
Alguns artistas se juntaram aos manifestantes, incluindo a atriz Suzana Vieira. "Chega disso. Ninguém aguenta mais. Viva o Brasil e o Sérgio Moro", declarou ela.
Durante a manifestação no Rio, um avião com a faixa “Não vai ter golpe!”, assinada pela Frente Brasil Popular, que reúne movimentos sociais e sindicatos, circulou por Copacabana.
Em Brasília, havia um grande boneco de Lula vestido de presidiário na Esplanada dos Ministérios e manifestantes gritavam palavras de ordem contra o governo, sem relatos de confrontos. De acordo com a Polícia Militar, cerca de 100 mil pessoas participaram do ato.
"Hoje é uma nova chance que o povo dá para a democracia porque perdeu a fé na democracia com tanta robalheira", disse o estudante de Direito Elias Souza, de 22 anos.
TEMOR DE VIOLÊNCIA
Em São Paulo, local que reuniu o maior número de manifestantes em protestos pró-impeachment no ano passado, o ato deste domingo começou à tarde. Vários carros de som e manifestantes tomaram a Avenida Paulista, carregando cartazes e faixas contra a corrupção e o governo e com bonecos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e também da presidente Dilma, vestidos de presidiários. Até o momento não há estimativa de número de manifestantes na capital paulista.
Segundo a Polícia Militar de São Paulo, no início do protesto uma mulher contrária à manifestação causou tumulto no Masp ao arremessar garrafa d'água contra os policiais e acabou presa por desacato.
Há uma preocupação no Palácio do Planalto com possíveis confrontos entre grupos de manifestantes rivais, mesmo com o adiamento de atos pró-governo que estavam marcados também para este domingo.
Dilma, que descartou enfaticamente na sexta-feira a possibilidade de renunciar, fez um apelo pela pacificação. “A manifestação é um momento importante no país, de afirmação democrática. Por isso não deve ser manchada por nenhum ato de violência”, afirmou Dilma em entrevista coletiva.
Os protestos deste domingo ocorrem dias após o Ministério Público de São Paulo ter pedido a prisão preventiva do ex-presidente Lula no caso envolvendo um tríplex no Guarujá (SP), no qual é acusado de lavagem de dinheiro e falsidade ideológica, e também depois de o ex-presidente ter sido alvo de mandado de condução coercitiva da Polícia Federal no âmbito da operação Lava Jato.
As ações contra Lula deram novo fôlego ao pedido de abertura de processo de impeachment contra Dilma, assim como a delação premiada do senador Delcídio do Amaral (PT-MS) citando Lula e a presidente, que foi acusada pelo ex-líder do governo no Senado de tentar interferir na Lava Jato.
O próprio governo avaliou que o risco de aprovação de um processo de impeachment cresceu nas últimas três semanas, desde o vazamento de parte da delação de Delcídio, de acordo com uma fonte do Palácio do Planalto ouvida pela Reuters.
(Com reportagem de Daniel Flynn e Cesar Bianconi, em São Paulo; Pedro Fonseca e Rodrigo Viga Gaier, no Rio de Janeiro; Anthony Boadle e Alonso Soto, em Brasília; Edição de Raquel Stenzel)