SÃO PAULO (Reuters) - O candidato do PDT à Presidência, Ciro Gomes, disse nesta terça-feira acreditar que o povo brasileiro "não cometerá suicídio coletivo" em referência a uma eventual eleição do candidato Jair Bolsonaro, do PSL.
Em sabatina promovida em parceria entre O Estado de S. Paulo e a Faap na capital paulista, Ciro afirmou que o sucesso de Bolsonaro nas pesquisas é alavancado pelos "ricos, brancos, machos..., basicamente esse lado mais truculento da sociedade, esse lado mais egoísta", disse.
"Mas, daí até ele ganhar a eleição, eu acho que o povo brasileiro não cometerá esse suicídio coletivo", afirmou.
Bolsonaro lidera as pesquisas de intenção de voto nos cenários em que não aparece o nome do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que está preso em Curitiba e teve o registro de candidatura negado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Ciro fez ainda a avaliação de que Bolsonaro é um produto da elite brasileira.
"Ele está interpretando um papel, e a elite brasileira cobra ele no texto que ele decorou", disse. "Ele quer negar a política, como diálogo, como tolerância... Bolsonaro assumiu um personagem de teatro, ele sabe que um em cada cinco brasileiros --mais ou menos-- é homofóbico, é misógino, é contra cota para negro, tem horror a pobre... Ele decorou esse papel".
Apesar de se classificar como um candidato de centro-esquerda, Ciro afirmou que gostaria de ver o país além da divisão entre "coxinhas e mortadelas". Perguntado sobre sua relação com o PT e com o ex-presidente Lula, o candidato do PDT afirmou que sua relação com o PT é "igual a relação com a realidade".
"Por que é que eu sou obrigado a dizer que o PT é satanás e que o Lula é Deus? Eu não sou obrigado a isso", disse.
Embora tenha afirmado que a sentença que condenou o ex-presidente é "frágil", Ciro disse que não acredita que o petista deveria concorrer à Presidência por ter ele mesmo sancionado, quando presidente a Lei da Ficha Limpa, que torna inelegíveis condenados por órgãos colegiados da Justiça.
Lula foi condenado a 12 anos e 1 mês de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro pela 8ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), um órgão colegiado.
PREVIDÊNCIA E DÉFICIT
Perguntado sobre suas propostas para o sistema previdenciário, Ciro sugeriu a criação de um regime de capitalização, onde "cada trabalhador poupa pra si mesmo", e afirmou que o atual sistema brasileiro "não é reformável".
"Só o Brasil, Argentina e a Venezuela, que neste caso não são boas companhias, persistem no regime de repartição. Os três estão quebrados", disse.
"Esse sistema morreu, a gente precisa ter clareza no diagnóstico, se não a gente vai errar... não se trata de idade máxima, idade mínima, o problema aqui é orgânico."
Ciro ainda voltou a prometer zerar o déficit das contas públicas do país através da criação de imposto sobre lucros e dividendos empresariais, imposto sobre grandes heranças, e acabando com as renúncias fiscais.
"As multinacionais estão recebendo do Brasil --anotem aí-- 354 bilhões de reais por ano de renúncia fiscal, sem nenhuma contrapartida de investimento, sem nenhuma contrapartida de emprego, sem nenhum critério estratégico de desenvolvimento nacional, puro e simples clientelismo, quando não a política dos bons amigos da casa", afirmou.
"Isso aqui é técnico, como é que viabiliza isso? Politicamente. Me dêem apoio pra vocês verem se eu não faço."
Ciro também voltou a insistir em uma de suas principais propostas de campanha, que classificou como a recuperação do poder de consumo das famílias endividadas.
"Ajudar as famílias a recompor o seu consumo, esse é o primeiro motor de desenvolvimento econômico. E aqui não há como fazer isso sem limpar o nome dos 63 milhões de pessoas que estão no SPC, absolutamente impotentes para renegociar sozinhas, dado o absurdo que é juro sobre juro, multa, etc", disse.
(Reportagem de Pedro Belo)