SÃO PAULO (Reuters) - O candidato do PDT à Presidência, Ciro Gomes, defendeu nesta quarta-feira uma taxa de câmbio que estimule o investimento e a geração de emprego, mas sem artificialismos, e estimou como adequado o patamar "ao redor de onde ela está hoje".
"Eu tenho clareza do compromisso de administrar uma taxa de câmbio sem qualquer tipo de tabelamento, artificialismo, mas tensionar a taxa de câmbio no inverso do que o Brasil tem feito ao longo dos últimos 20 anos", disse Ciro a jornalistas antes de se reunir com economistas em São Paulo.
Segundo o presidenciável, nesse período o país teve uma taxa cambial que desestimulou a produção e estimulou "ciclos insustentáveis de consumo".
"Nós precisamos ter uma taxa de câmbio que estimule o investimento, estimule a geração de emprego e que garanta no tempo que a economia vai ter um padrão crescente de consumo sem rupturas como tem acontecido", defendeu.
"Achamos que a taxa de câmbio ao redor de onde ela está hoje, por mais que faça mal para alguns setores intensivos de importação, ela é estimulante do saldo positivo na balança comercial e, portanto, é uma taxa de câmbio que talvez a gente nem precise mexer", argumentou.
Em meio a incertezas com as eleições e também com o cenário econômico internacional, o dólar tem sido cotado entre 4,10 reais e 4,20 reais nos últimos dias no mercado brasileiro. A moeda norte-americana já subiu cerca de 25,3 por cento ante o real neste ano, renovando as maiores cotações ante o real quase diariamente após o início da propaganda eleitoral na televisão na semana passada.
Ciro voltou a defender um duplo mandato para o Banco Central, de "menor inflação e pleno emprego", mas ressaltou que o BC não irá mirar os preços administrados pelo governo, que sobem relativamente pela taxa de câmbio "e a taxa de juros nada tem de efeito sobre isso".
CONCORRÊNCIA BANCÁRIA
O candidato do PDT disse que não gostaria de internacionalizar o setor financeiro brasileiro, mas reclamou dos juros cobrados pelos bancos no país, e defendeu uma maior concorrência, que incluiria um papel importante dos bancos públicos, das chamadas fintechs e das cooperativas de crédito.
"Não me agrada a ideia de entregar aos estrangeiros um setor tão estratégico como esse, mas ao mesmo tempo protegê-los de uma competição mais agressiva e eles traindo essa proteção escorchando a sociedade, o mundo produtivo e as famílias também não dá mais para continuar", disse.
Ele disse esperar que, com diálogo e regulações, os bancos possam vir a um "padrão civilizado".
Questionado se resolveria tudo com os bancos públicos, Ciro disse que vai tentar, mas também ressaltou o papel das fintechs e das cooperativas de crédito no financiamento da infraestrutura.
Ciro prometeu gerar 2 milhões de empregos no primeiro ano de governo e voltou a falar de sua proposta para ajudar a limpar o nome no SPC dos brasileiros endividados.
Sobre ministeriáveis em um eventual governo seu, Ciro foi direto: "dois aqui, um no meu ombro esquerdo, outro no meu ombro direito, não sei quais pastas, mas esses dois serão cérebros importantes de um governo meu", disse apontando para Mauro Benevides Filho e Nelson Marconi, coordenadores de seu programa de governo.
(Reportagem de Pedro Belo)