(O autor é editor de Front Page do Serviço Brasileiro da Reuters. As opiniões expressas são do autor do texto)
Por Alexandre Caverni
SÃO PAULO (Reuters) - A se confirmarem as últimas notícias, a presidente Dilma Rousseff parece estar tentando o impossível com a reforma administrativa e ministerial: cortar ministérios, agradar todos os blocos do PMDB, dar poder prático ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ficar bem, na medida do possível, com o PT e não arranhar demais os outros aliados.
Isso tudo tendo dois objetivos mais ou menos bem definidos: garantir apoio parlamentar necessário para evitar seu impeachment e votos para que as novas medidas do ajuste fiscal sejam aprovadas do jeito que precisam ser aprovadas.
Mas ao fim e ao cabo nada garante que os dois objetivos serão alcançados, ou mesmo um deles.
Manter ministros do PMDB ligados ao vice-presidente Michel Temer e os que representam os senadores do partido e ainda oferecer o "gordo" Ministério da Saúde para contemplar os deputados peemedebistas visa algo crucial para que Dilma consiga sobreviver na Presidência até 2018: impedir que os parlamentares do PMDB desembarquem no movimento pelo impeachment.
De quebra, o Palácio do Planalto espera mais apoio para aprovar medidas impopulares.
Do lado do PT, a presidente parece ter se rendido à dura realidade da política e também aos desejos de Lula. Embora o ministro Jaques Wagner não seja um pau-mandado do ex-presidente e tenha um bom relacionamento com Dilma, no tabuleiro atual ele será, ao assumir a Casa Civil no lugar de Aloizio Mercadante, mais um homem de confiança de Lula no Palácio de Planalto --o outro é o ministro da Comunicação Social, Edinho Silva.
Com Wagner na Casa Civil, além de agradar Lula, Dilma tenta contentar outras lideranças petistas e aliadas que há tempos pediam a cabeça de Mercadante.
E mesmo não sendo diretamente responsável pela coordenação política neste cargo, a aposta é que Wagner consiga melhorar bem a relação do Executivo com o Legislativo, uma vez que já desempenhou esse papel no governo do ex-presidente.
Ao colocar Mercadante de volta ao Ministério da Educação, Dilma não abandona ao sereno --e à primeira instância da Justiça-- aquele que é considerado seu mais fiel auxiliar. Como ministro, ele mantém o foro privilegiado num momento em que é investigado por suposto caixa dois na campanha eleitoral de 2010.
Ao mesmo tempo, com esse movimento, a presidente compensa de alguma forma o PT por dar ao partido a Educação, outro dos ministérios "gordos" em recursos --mesmo em tempos de "seca fiscal", uma pasta "gorda" gasta mais do que uma "magra".
Em paralelo a esses movimentos principais, a presidente deve tirar o status de ministério de algumas secretarias de Estado, fundir outras pastas e acomodar os demais aliados com o que sobrar.
Se ela vai conseguir costurar todos os movimentos com a sintonia fina necessária e se isso tudo vai funcionar e cumprir os propósitos perseguidos, só as próximas semanas e votações dirão.
Mas considerando o comportamento que a chamada base governista vem tendo neste segundo mandato de Dilma, o retorno pode vir a ser bastante modesto.
* Esta coluna foi publicada inicialmente no terminal financeiro Eikon, da Thomson Reuters.