(O autor é editor de Front Page do Serviço Brasileiro da Reuters. As opiniões expressas são do autor do texto)
Por Alexandre Caverni
SÃO PAULO (Reuters) - A decisão do PMDB de romper com o governo da presidente Dilma Rousseff é uma daquelas raríssimas ocasiões em que um partido ou grupo político tem uma escolha fácil e de baixo risco diante de si apesar do momento de grande turbulência.
Embora ainda sejam muitas as incertezas sobre os possíveis cenários nos próximos meses, os últimos acontecimentos têm reforçado a cada dia a possibilidade do impeachment de Dilma, sendo um desses fatos justamente a antecipada decisão do PMDB.
Diante disso, a escolha feita pelos peemedebistas não somente foi fácil e pragmática, mas basicamente obrigatória.
Tendo como presidente do partido o vice-presidente da República, Michel Temer, o PMDB se encontrou na posição de poder decidir deixar o governo e os cargos ocupados justificando isso como um resposta às suas bases e à opinião pública, amplamente favorável ao impeachment, garantido na razoável aposta de que muito em breve o partido estará no comando do país.
Nessa situação, o movimento do PMDB não deveria ser classificado nem como traição nem como uma prova de espírito público e desapego ao poder. Os peemedebistas simplesmente fizeram o cálculo que era impossível deixar de fazer.
A essa altura do campeonato, por que continuar abraçado a uma presidente que tem cerca de 10 por cento de popularidade em meio a uma fortíssima recessão econômica e grave crise política se a decisão de abandonar o governo pode ajudar a acelerar sua queda, dado o número de votos que o partido tem na Câmara e no Senado e, assim, colocar Temer na Presidência da República?
Contra qualquer crítica simplista ao partido, é preciso lembrar que muitos no PMDB já queriam o rompimento antes mesmo da eleição de 2014, descontentes pelo tratamento que diziam receber do governo.
Aqui está, aliás, uma das ironias dessa história. Se Dilma tivesse sido reeleita sem a aliança com o PMDB e um processo de impeachment estivesse em andamento num cenário de caos como o que temos hoje, não seria um peemedebista o vice e beneficiário imediato do impedimento da presidente.
É possível imaginar, claro, que Dilma não seria reeleita se o PMDB não tivesse repetido a aliança eleitoral de 2010 e garantido importante tempo na propaganda eleitoral da chapa encabeçada pelo PT, mas aí a história seria completamente diferente.
Maior partido do país e tendo quase sempre, como agora, as maiores bancadas na Câmara dos Deputados e no Senado, o PMDB sempre foi decisivo no apoio a praticamente todos os governos desde a redemocratização do país.
Excluindo o período do presidente José Sarney, no entanto, o partido nunca comandou o país. E no governo Sarney a frustração foi grande entre muitos do partido ao verem um peemedebista por circunstância elevado a presidente da República com a doença, e depois morte, de Tancredo Neves.
Ainda que exista a possibilidade, cada vez mais remota, de Dilma resistir ao impeachment, tudo indica que agora, pouco mais de 30 anos depois, o PMDB está prestes a comandar o país novamente e desta vez com o próprio presidente do partido.
O único risco é o governo durar pouco. Fora o processo de impeachment contra Dilma, existem ações no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pedindo a cassação da chapa Dilma-Temer. Se o TSE cassar a chapa e Dilma já tiver sido afastada pelo impeachment será Temer quem perderá a Presidência.
* Esta coluna foi publicada inicialmente no terminal financeiro Eikon, da Thomson Reuters.