Por Ricardo Brito
BRASÍLIA (Reuters) - Embalada pelas mais recentes pesquisas eleitorais que apontaram franca vantagem, a campanha do candidato do PSL, Jair Bolsonaro, decidiu intensificar a pregação pelo voto útil a fim de tentar garantir uma vitória do presidenciável ainda no primeiro turno, de modo a evitar um provável confronto contra o adversário petista, Fernando Haddad, numa segunda rodada.
A principal estratégia é defender que o eleitor vote já primeiro turno em Bolsonaro em vez de optar por candidatos da preferência pessoal --como Geraldo Alckmin (PSDB), Alvaro Dias (Podemos) e João Amoêdo (Novo)-- e deixar para optar pelo nome do PSL somente na segunda rodada de votação.
Contudo, a tarefa é difícil a 17 dias do primeiro turno. No Ibope divulgado na terça-feira, Bolsonaro tem 35 por cento dos votos válidos, que excluem os eleitores que anulariam ou votariam em branco. Para vencer no primeiro turno, o candidato tem de ter metade mais um dos votos válidos.
O candidato do PSL também tem apresentado, nas pesquisas eleitorais, altos índices de rejeição, o que, em tese, dificulta um crescimento a ponto de vencer a corrida no primeiro turno.
Nas eleições desde a redemocratização, apenas o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso conseguiu vencer disputas presidenciais no primeiro turno, em 1994 e 1998.
A expectativa maior entre os aliados do candidato ouvidos pela Reuters nos últimos dias é que Bolsonaro vá para o segundo turno, ainda mais diante do fato de que o presidenciável está impossibilitado de fazer agendas de campanha na rua por estar se recuperando de cirurgias após o atentado à faca que sofreu duas semanas atrás.
Ainda assim, o coordenador da campanha de Bolsonaro em São Paulo, deputado Major Olimpio (PSL), afirmou que os aliados vão defender o voto útil como forma de liquidar a disputa presidencial, numa espécie do que consideram que será uma antecipação da derrota petista.
"Para não ter o espectro, o medo da praga de que o PT vai voltar, tenho certeza que esse voto útil vai aumentar muito na urna", disse Olimpio.
O coordenador afirmou que Bolsonaro, a quem visitou na véspera no hospital, deu a ordem de reforçar a campanha nessa reta final e evitar polêmicas.
Do hospital, o candidato cobrou na quarta-feira explicações por telefone de seu principal assessor econômico, Paulo Guedes, sobre a proposta de criação de um imposto nos moldes da CPMF. Recentes declarações do candidato a vice na chapa, general Hamilton Mourão (PRTB), também causaram desconforto dentro da campanha e a ordem é que ele não represente Bolsonaro em debates.
"Não vamos inventar a roda, é fazer o feijão com o arroz", disse Olimpio.
Reservadamente, aliados de Bolsonaro contam também com o chamado voto "envergonhado" no presidenciável do PSL para impulsionar o apoio a ele na primeira etapa. Seriam pessoas que publicamente não dizem que votarão nele, mas, na votação secreta, vão apoiá-lo.
Segundo interlocutores, se tiver autorização médica, Bolsonaro também deve fazer novas gravações ao vivo para pedir votos até o primeiro turno --no domingo passado ele já fez uma transmissão ao vivo do hospital.
Outro caminho, já em ação, é divulgar novos vídeos com imagens antigas dele pelas redes sociais.
O presidente licenciado do PSL, Luciano Bivar, disse ainda que a estratégia da campanha de Alckmin, que começou a divulgar vídeos em que defende voto útil no tucano para fazer frente a Bolsonaro e a Haddad, pode vir a beneficiar o candidato do PSL.
"Tenho a impressão que o Alckmin arranjou um marqueteiro que rema contra ele", ironizou o presidente licenciado à Reuters na quarta-feira. Para ele, "parte significativa" dos votos ao tucano deve ir para Bolsonaro.