Por Sérgio Spagnuolo
CURITIBA (Reuters) - A construtora Queiroz Galvão foi o principal alvo da 33ª fase da Operação Lava Jato, desencadeada nesta terça-feira, por sua participação no chamado “cartel das empreiteiras” em contratos com a Petrobras (SA:PETR4), em um esquema tão amplo que um procurador da República afirmou que a construtora reúne todos os tipos de crimes investigados pela força-tarefa.
A empreiteira é considerada a terceira maior em volumes de contratos com a Petrobras no âmbito da Lava Jato, alcançando um total superior a 20 bilhões de reais, segundo autoridades.
“A investigação reuniu indícios relativos à prática de crimes. Num primeiro momento havia relato de colaboradores, mas… conseguimos corroborar essas declarações e também foram descobertos fatos novos que indicam cometimento de crime”, disse a delegada federal Renata da Silva Rodrigues, em entrevista coletiva na sede da Polícia Federal, em Curitiba.
Batizada de "Resta Um", a nova fase realizou operações nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Goiás, Pernambuco e Minas Gerais. Foram expedidos 32 mandados judiciais, incluindo dois de prisão preventiva e um de prisão temporária.
Foram presos sob caráter preventivo o ex-presidente da construtora Ildefonso Colares Filho, o qual teria dito a investigadores que já se desligou da companhia, e o executivo Othon Zanoide Moraes, o qual ainda consta nos quadros do grupo Queiroz Galvão, segundo a PF.
“Foi apurado que esses executivos, no seio da Queiroz Galvão, de alguma forma comandavam, determinavam e executavam o pagamento de propina e os atos de lavagem (de dinheiro)”, disse a delegada. “Os valores movimentados por meio dessas condutas alcançam níveis bastante impressionantes.”
O total de propinas já rastreado e comprovado, segundo o Ministério Público Federal, está por volta de 10 milhões de reais, mas pode ser superior.
Segundo a delegada da PF, o doleiro Alberto Youssef disse ter tido acesso a uma contabilidade de propina da Queiroz Galvão no âmbito da diretoria de Abastecimento da Petrobras no montante de 37 milhões de reais.
“Por meio de contratos conseguimos rastrear boa parte desses repasses, alguns rastreamentos ainda estão em andamento… e ainda há a questão dos repasses para a diretoria de Serviços (da Petrobras),” disse a delegada Renata.
Também foi ordenada a prisão temporária de Marcos Pereira Reis, executivo do consórcio Quip, do qual a Queiroz Galvão é acionista, mas como ele se encontra no exterior, sua prisão está em aberto. A UTC Engenharia, a IESA Gás e Óleo e a Camargo Corrêa são sócias da Queiroz na Quip, de acordo com documentos judiciais.
Relatos de colaboradores dão conta que a Quip teria sido abordada e solicitada a realizar doações oficiais à campanha de reeleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2006, mas que na verdade seriam pagamento de “vantagem indevida” relativa a contrato para a construção da plataforma P-53, da Petrobras, segundo a delegada Renata. As alegações ainda estão sendo apuradas, mas o montante da propina chegaria a 2,4 milhões de reais.
A Quip foi contratada por uma sociedade de propósito específico criada pela Petrobras para a construção da plataforma, cujo valor final do contrato, incluindo aditivos, foi de cerca de 930 milhões de dólares, de acordo com documento judicial.
A empresa ainda é acusada de obstruir as investigações da Comissão Parlamentar de Inquérito da Petrobras, em 2009, quando teria desembolsado, segundo colaboradores, 10 milhões de reais para evitar as apurações, de acordo com comunicado do MPF.
Essa suspeita já era conhecida, mas apenas recentemente um vídeo que comprovaria a informação foi localizado e compartilhado com investigadores, segundo a PF. “É um vídeo que demonstra uma atuação muito direta dos investigados de obstruir as investigações”, disse a delegada na coletiva.
Os investigadores não deram nomes de políticos potencialmente envolvidos, considerando que possuem o chamado foro privilegiado.
Durante a entrevista coletiva em Curitiba, a assessoria da Queiroz Galvão informou que divulgará comunicado com a posição da empresa.
"O PT refuta as ilações apresentadas. Todas as operações financeiras do partido foram realizadas estritamente dentro dos parâmetros legais e posteriormente declaradas à Justiça Eleitoral”, disse a assessoria de imprensa do diretório nacional do PT.
TODOS OS PECADOS
As investigações contra a companhia são tão amplas que englobariam todos os principais tipos de crimes investigados na operação Lava Jato, segundo autoridades.
"A Queiroz tem uma peculiaridade: ela representa, ela enseja, todos os pecados, todas as espécies de crimes que nós verificamos na operação Lava Jato”, disse o procurador da República Carlos Fernando dos Santos Lima na coletiva.
“Nós verificamos que ela está envolvida em pagamentos de propina através de caixa 1, doações eleitorais sob o manto de uma suposta legalidade; temos caixa 2, por exemplo, pagos pela Quip para a campanha de reeleição do ex-presidente Lula em 2006, também propina; nós temos corrupção efetiva através do Alberto Youssef; temos manutenção de funcionários no exterior longe da Justiça brasileira e, por fim, o impedimento de investigações, com o caso da CPI de 2009, com o senador Sérgio Guerra”, afirmou o procurador.
(Reportagem adicional de Eduardo Simões, em São Paulo)