Por Maria Carolina Marcello
BRASÍLIA (Reuters) - A presidente afastada Dilma Rousseff fez um discurso nesta segunda-feira bem avaliado até mesmo entre quem não a apoia, mas os argumentos da petista têm poucas chances de reverter o placar de condenação que se desenha para o julgamento final do impeachment no Senado, segundo avaliação de parlamentares.
Dilma rebateu no Senado acusações de que cometeu crime de responsabilidade e fez um apelo para que não seja injustiçada.
Para os novos governistas, integrantes da base do governo interino de Michel Temer, no entanto, caso do líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), a fala da presidente foi "burocrática" e "enfadonha", sem chance de reversão de votos na Casa.
Mas na avaliação de outro adversário de Dilma, o depoimento da presidente, embora tenha ficado "dentro do script", chegou a ser respeitoso e não trouxe grandes incômodos a integrantes da base de Temer.
"Ela está cumprindo o papel dela. Além do mais, isso fica registrado na história. Ela quis dar a versão dela", afirmou.
Esse mesmo parlamentar, que não quis ser identificado, assim como um aliado da presidente, avalia que não há chance de mudanças significativas na correlação de forças no Senado.
Outros defensores de Dilma, porém, alimentam a esperança de que o discurso, como instrumento político, tenha ajudado a sensibilizar senadores indecisos -seja pelos argumentos descritos como "límpidos" e "sólidos" para afirmar que não houve crime de responsabilidade, seja pelo tom emocionado que Dilma adotou.
"Foi um discurso histórico, muito eficiente, fez uma defesa clara. Ela veio em busca de justiça", disse o vice-presidente do Senado, Jorge Viana (PT-AC).
Enquanto o lado governista calcula que terá entre 58 e 60 votos, o grupo de aliados de Dilma envolvidos nas negociações por votos nutre a expectativa de reunir mais oito senadores além dos 21 que já contabilizam.
O impeachment só é efetivado se essa for a vontade de dois terços dos senadores, o equivalente a 54 parlamentares. Por isso mesmo, a batalha da presidente é conseguir ao menos 28 votos, impossibilitando um placar que resulte na sua condenação.
A matemática de aliados de Dilma leva em conta ainda a possibilidade de, uma vez alcançados os 28 votos, esse número pular para 32 ou 33.
O fenômeno seria explicado por senadores que não prometem seus votos, mas podem acompanhar os contrários ao impeachment, caso a estratégia de Dilma tenha sucesso.
Do outro lado da rua, no Palácio do Planalto, a orientação era que ninguém do entorno de Temer desse entrevista ou comentasse o assunto, para evitar "dar palanque" à petista.
No início da noite, no entanto, a Presidência da República divulgou nota para rebater o que classificou de "falsas acusações de retirada de direitos sociais e previdenciários" surgidas durante o julgamento do impeachment de Dilma.
A nota nega que o governo de Temer esteja discutindo a adoção de idade mínima de 70 ou 75 anos para os aposentados e afirma ainda que as propostas do governo respeitarão direitos e garantias constitucionais. [E6N1A4073]
(Reportagem adicional de Lisandra Paraguassu)