Por Ricardo Brito
BRASÍLIA (Reuters) - Mesmo na unidade de terapia semi-intensiva do hospital Albert Einstein, o candidato do PSL à Presidência, Jair Bolsonaro, telefonou na manhã desta quarta-feira para o seu principal assessor econômico, Paulo Guedes, para pedir explicações sobre uma proposta atribuída a ele de recriar um imposto nos moldes da CPMF, disse à Reuters o coordenador da campanha do presidenciável em São Paulo, deputado Major Olimpio.
A proposta foi atribuída a Guedes, que deverá tornar-se ministro da Fazenda se Bolsonaro vencer a eleição de outubro, pela edição desta quarta do jornal Folha de S.Paulo.
Segundo Olimpio, Bolsonaro conversou logo cedo por telefone com Guedes sobre a proposta assim que tomou conhecimento dela pela imprensa. Ele não tinha sido consultado pelo economista sobre o assunto.
Guedes explicou a Bolsonaro que jamais teve a intenção de recriar a CPMF, mas sim a adoção de um Imposto sobre Valor Agregado (IVA) em uma simplificação tributária a ser implementada pelo novo governo e que não iria aumentar a carga tributária.
Olimpio, que também conversou com Guedes por telefone pela manhã e visitou Bolsonaro no hospital à tarde, disse que não há nenhuma decisão tomada sobre a sugestão. Acrescentou ainda que parte da proposta de Guedes, apresentada na véspera a uma plateia restrita reunida pela GPS Investimentos, uma gestora especialista em grandes fortunas, teria sido deturpada.
"Isso acabou levando um susto a todos nós", admitiu Olimpio. "Nada disso foi submetido à consideração do presidente (candidato Jair Bolsonaro)", completou.
Logo cedo, Bolsonaro, que lidera as pesquisas de intenção de voto ao Palácio do Planalto, usou uma de suas redes sociais para reafirmar que trabalha pela queda dos impostos no país.
"Nossa equipe econômica trabalha para redução de carga tributária, desburocratização e desregulamentações. Chega de impostos é o nosso lema! Somos e faremos diferente. Esse é o Brasil que queremos!", disse Bolsonaro no Twitter (NYSE:TWTR).
A intenção do candidato e de aliados foi dar explicações e reduzir o mais rápido possível eventuais danos de uma proposta potencialmente impopular. A CPMF, popularmente conhecida como imposto do cheque, foi derrubada pelo Senado em 2007, numa das maiores derrotas do então governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Congresso.
Outros aliados de Bolsonaro, como o próprio Olimpio, foram autorizados pelo presidenciável a fazer uma defesa pública e intransigente da redução dos impostos e esclarecer a questão em torno da sugestão de Guedes.
Bolsonaro, que se recupera de uma facada que sofreu no dia 6 que o levou a passar por duas cirurgias de urgência, começou a receber nesta quarta alimentação via oral líquida e voltou a orientar os rumos da campanha, disse o coordenador.
A proposta atribuída a Guedes foi alvo de críticas de rivais de Bolsonaro na corrida pelo Palácio do Planalto.
Ciro Gomes (PDT) classificou a ideia, que incluiria a unificação da alíquota de Imposto de Renda, de "fascista". O presidenciável do PSDB, Geraldo Alckmin, afirmou que a proposta é "atrasada e cruel", enquanto Marina Silva (Rede) disse ser contra a recriação da CPMF.