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Em delação, João Santana e mulher dizem que Lula e Dilma sabiam de caixa 2 de 2006 a 2014

Publicado 11.05.2017, 19:03
© Reuters. Ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff

Por Ricardo Brito

BRASÍLIA (Reuters) - O marqueteiro João Santana e sua mulher, Mônica Moura, acusaram em delações premiadas os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff de saberem --e em algumas oportunidades atuarem na articulação-- do esquema de caixa 2 nas campanhas presidenciais que concorrem nos anos de 2006, 2010 e 2014.

O ministro Edson Fachin, relator da operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), liberou nesta quinta-feira a íntegra das colaborações firmadas pelos dois, que estavam sob sigilo desde o início de abril, quando ele homologou a delação de ambos.

As declarações do casal devem desencadear novas frentes de investigações --o Ministério Público Federal apresentou ao STF 22 petições referentes a fatos denunciados por eles.

Em um dos anexos da delação premiada, João Santana destacou a atuação de Lula e Dilma na época das campanhas para destravar acertos financeiros.

“Nestas oportunidades, tanto Lula como Dilma se comprometeram a resolver o impasse e, de fato, os pagamentos voltavam a ocorrer. Tanto os pagamentos oficiais, quanto os recebimentos de valores através de caixa 2”, disse.

Em um dos episódios narrados, João Santana relatou ter ocorrido um almoço no Palácio do Alvorada com a então presidente Dilma Rousseff entre maio e junho de 2014 na qual, segundo ele, a petista anunciou-lhe que ficasse tranquilo em relação à regularização de pendências dos serviços prestados pelo casal na forma de caixa 2.

Segundo Santana, Dilma assegurou-lhe que o cronograma de pagamentos da campanha dela à reeleição seria feita por uma pessoa de "total confiança" dela para evitar que houvesse desvio de recursos destinados ao pagamento do marketing eleitoral.

Em sua colaboração, Mônica Moura disse que o interlocutor dela era Giles Azevedo, assessor de extrema confiança da então presidente. No relato dela, Dilma não tinha confiança no ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto.

"Fique tranquilo que tudo será resolvido, rapidamente, em relação a esta dívida. E o que estamos planejando vai permitir, inclusive, pagarmos uma parte antecipada da campanha deste ano", disse Dilma, no relato feito por Santana aos procuradores da força-tarefa da Lava Jato.

Em outras ocasiões, segundo relato de Santana, a então presidente buscou tranquilizar o casal a respeito do débito que tinham a receber da campanha no valor de 35 milhões de reais. O recebimento por meio de caixa 2 e em depósitos no exterior também fizeram parte da conversa entre eles.

O marqueteiro disse que, numa ocasião, em setembro de 2014, às vésperas do primeiro turno eleitoral, Dilma perguntou se os depósitos feitos no exterior pela Odebrecht se deram de forma segura. Santana disse tê-la tranquilizado porque não sabia do emaranhado de contas da Odebrecht.

Apesar da promessa de Dilma, o casal afirmou nas colaborações que o saldo não foi quitado. Mônica Moura disse que a parte que seria transferida para o exterior para arcar com a dívida --a cargo da Odebrecht-- não foi realizada, porque a Lava Jato já estava em franco andamento e a empreiteira estava na mira das investigações.

Em nota de sua assessoria de imprensa, a ex-presidente reiterou o que já havia dito sobre a delação do casal de marqueteiros.

"João Santana e Mônica Moura prestaram falso testemunho e faltaram com a verdade em seus depoimentos, provavelmente pressionados pelas ameaças dos investigadores", diz a nota. "Apesar de tudo, a presidente eleita acredita na Justiça e sabe que a verdade virá à tona e será restabelecida."

Dilma é alvo de processo no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) juntamente com seu então companheiro de chapa e hoje presidente da República, Michel Temer, sobre a eleição presidencial de 2014. A chapa Dilma-Temer é acusada de abuso de poder político e econômico no pleito.

REELEIÇÃO DE LULA

Segundo João Santana, Lula tinha uma forma bem-humorada para falar do pagamento de saldos de campanha pela Odebrecht. "E aí, os alemães têm lhe tratado bem?"

Em um de seus depoimentos como colaboradora, Mônica Moura disse que na reeleição do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva houve uma reunião no escritório de Antonio Palocci, que tempos antes havia deixado o Ministério da Fazenda, para discutir o valor do marketing político.

© Reuters. Ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff

Segundo Mônica, Palocci exigiu que parte dos valores fosse pago de forma oficial e outra via caixa 2, condição para que o casal fizesse a campanha.

A mulher disse que Lula sabia de toda a operação porque Palocci disse a ela que em várias vezes durante a negociação sobre valores o então presidente era consultado.

"Tinha que falar com o Lula, porque o valor era alto, e ele não tinha como autorizar sozinho", contou Mônica aos procuradores. Segundo ela, o valor acertado, na última reunião, foi de 24 milhões de reais, autorizado por Lula.

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