(Reuters) - Em sua volta ao Senado depois de ser afastado do mandato pelo Supremo Tribunal Federal (STF), o senador Aécio Neves (PSDB-MG) se disse nesta terça-feira indignado com as acusações de que é alvo no âmbito da delação de executivos da J&F, holding que controla a JBS (SA:JBSS3), e afirmou que nunca atuou para favorecer o grupo empresarial de Joesley Batista.
Aécio foi afastado do mandato em maio por decisão do ministro Edson Fachin, do Supremo, após ser gravado em uma conversa com Joesley na qual teria pedido ao empresário 2 milhões de reais para pagar os advogados que fazem sua defesa em inquéritos na Justiça.
A irmã do senador, Andrea Neves, que teria negociado os valores com Joesley, e seu primo, Frederico Pacheco, que foi filmado pela Polícia Federal recebendo o dinheiro acertado, chegaram a ser presos quando Aécio foi afastado do mandato. Ambos foram soltos posteriormente por decisão do STF. Aécio retomou o mandato por decisão do ministro Marco Aurélio Mello, novo relator do caso.
O tucano reafirmou em seu pronunciamento nesta terça ter sido alvo de uma armadilha engendrada pelo empresário e voltou a dizer que sua intenção inicial era vender um apartamento a Joesley. Os 2 milhões de reais teriam sido oferecidos pelo empresário como um empréstimo.
"Não cometi crime algum! Não aceitei recursos de origem ilícita, não ofereci ou prometi vantagens indevidas a quem quer que fosse e tampouco atuei para obstruir a ação da Justiça, como me acusaram. Fui, sim, vítima de uma armadilha engendrada e executada por um criminoso confesso de mais de 200 crimes, cujas penas somadas ultrapassariam mais de 2 mil anos de cadeia", disse Aécio.
"Nem mesmo os delatores, senhoras e senhores, apontam quais favores lhes teriam sido prestados. Mas isso passou a ser irrelevante. Muito pelo contrário, o delator, Ricardo Saud, executivo desse conjunto de empresas, afirma de forma clara em um de seus depoimentos --e abro aspas para ele: 'Ele, o Aécio, nunca fez nada por nós'-- fecho aspas", acrescentou Aécio.
O tucano negou ainda que tenha atuado para obstruir as investigações, como também aponta o Ministério Público, e disse que foi prejulgado e execrado diante da opinião pública. O senador também fez críticas à PGR.
"Assistimos hoje, na verdade, a uma enorme disputa que pode acabar por fazer com que algumas instituições do Estado brasileiro prevaleçam sobre as outras", disse.
"E isso não pode ocorrer. Só o equilíbrio interessa a uma sociedade sadia. O papel de investigar, de apontar erros, de puni-los é fundamental para o aprimoramento das nossas instituições, mas não pode ser feito ao arrepio do nosso ordenamento jurídico", disse Aécio, que aproveitou também o pronunciamento para reiterar apoio às reformas propostas pelo governo do presidente Michel Temer.
(Por Eduardo Simões, em São Paulo)