Por Ricardo Brito e Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - Jair Bolsonaro toma posse nesta terça-feira sob um esquema de segurança sem precedentes para este tipo de evento e com a promessa de um governo que quebre paradigmas que vão desde o modelo de negociação com o Congresso até a forma de comunicação com a sociedade.
Vitorioso na campanha presidencial mais polarizada da história, Bolsonaro (PSL) também terá de enfrentar um rombo fiscal que já dura cinco anos e um cenário econômico que conta com 12 milhões de desempregados e a necessidade de reformas como a da Previdência.
Bolsonaro, com 63 anos, tomará posse às 15h, em cerimônia no Congresso Nacional ao lado do general Hamilton Mourão, que será seu vice-presidente. Até o início da tarde, ainda não havia movimentação no Congresso, exceto a de jornalistas. Depois da posse no Parlamento, Bolsonaro irá ao Palácio do Planalto onde receberá a faixa presidencial do atual presidente Michel Temer (PMDB).
Em meio ao forte esquema de segurança que cerca a posse, o tradicional desfile em carro aberto dos presidentes recém-empossados pode não ocorrer e uma decisão sobre o assunto será anunciada apenas nesta terça-feira.
Desde o domingo militares fazem a segurança da Esplanada dos Ministérios e arredores. Objetos como frutas inteiras levadas por membros da imprensa que cobrirão a posse estão sendo barrados pela organização.
O trânsito de jornalistas envolvidos na cobertura da posse de Bolsonaro também era restrito pelas equipes que fazem a segurança do evento, ao contrário das posses de outros presidentes, quando a circulação de repórteres foi permitida. O novo presidente tem mantido uma relação conflituosa com boa parte da imprensa e logo na manhã desta terça-feira criticou pelo Twitter (NYSE:TWTR) o que chamou de "fake news" de uma revista semanal.
Bolsonaro foi alvo de uma facada durante evento de campanha em Juiz de Fora (MG) em setembro e também foi alvo de ameaças, entre elas a feita em uma página na Internet por um grupo intitulado Maldição Ancestral que afirma que pode cometer um atentado contra o capitão da reserva do Exército na posse.
Diante de ameaças "vivas" contra o futuro presidente, nas palavras do ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Sergio Etchegoyen, será feito um número maior de bloqueios do que em posses anteriores para quem quiser acompanhar a posse na Esplanada do Ministério --fechada desde o domingo-- e a entrada de pessoas com bolsas e mochilas, por exemplo, está proibida.
O acesso à Esplanada, que ficará bloqueada por 80 horas sendo novamente liberada somente na quarta-feira, será feito somente a pé e pela rodoviária de Brasília. A expectativa é que entre 250 mil e 500 mil pessoas acompanhem a posse de Bolsonaro. O GSI não quis revelar o efetivo de segurança que será usado no evento.
Também desde a manhã, partidários de Bolsonaro vestidos de amarelo e com bandeiras do Brasil se preparavam para acompanhar a posse na Esplanada, acompanhadas de tropas das Forças Armadas equipadas com tanques e fuzis.
O cerimonial convidou quatro ex-presidentes para a posse de Bolsonaro --José Sarney, Fernando Collor, Fernando Henrique Cardoso e Dilma Rousseff--, mas somente Sarney e Collor confirmaram presença. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva está preso desde abril em Curitiba e, por isso, não foi convidado.
Os organizadores da posse também reservaram lugar de destaque no Palácio do Planalto para que os comandantes das três forças --Exército, Marinha e Aeronáutica-- acompanhem a posse. Eles terão assento mais próximo à rampa do palácio do que os presidente da Câmara dos Deputados, do Senado e do Supremo Tribunal Federal (STF), por exemplo.
Além de simpatizantes e lideranças políticas brasileiras, também acompanharão a posse do novo presidente autoridades internacionais, como o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, e o secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, representantes de dois países com que Bolsonaro deverá buscar relações estreitas.
MUDANÇAS E DESAFIOS
No período de transição de governo, iniciado pouco depois de seu triunfo eleitoral em 28 de outubro, Bolsonaro manteve suas promessas de campanha, entre elas a de mudar a forma de negociação do Executivo com o Legislativo e de não buscar indicações partidárias para compor o primeiro escalão do governo.
Em vez disso, nomeou auxiliares alinhados à sua ideologia mais à direita e apontou que suas tratativas com o Parlamento se dariam por meio de conversas com bancadas temáticas --nomeou a coordenadora da Frente Parlamentar da Agropecuária, Tereza Cristina, para chefiar o Ministério da Agricultura, por exemplo.
Indicou também vários militares para postos-chaves do governo, casos dos generais Augusto Heleno e Carlos Alberto Santos Cruz, que estarão ao lado do novo presidente no Palácio do Planalto, o primeiro como chefe do GSI e o segundo à frente da Secretaria de Governo.
“Não é que não vai ter conversa, o modelo que vigora ainda, de ministério por votos, não deu certo. Mergulhou o Brasil em ineficiência e na corrupção. Os parlamentares mesmo não querem mais isso. Alguns foram levados para o olho do furacão no vácuo, não queriam estar lá. E a grande parte deles, que temos conversado, é que o modelo que estamos adotando não é que pode dar certo, tem que dar certo", disse o futuro presidente no final de novembro.
A efetividade dessa estratégia, no entanto, tem sido alvo de ceticismo por parte de lideranças partidárias acostumadas com os bastidores da política.[nL1N1YW0VO]
Bolsonaro deve inaugurar também um novo modelo de comunicação de presidente da República. Após vencer a eleição impulsionado por uma bem-sucedida estratégia nas redes sociais, o novo presidente fez de sua conta no Twitter o principal canal para anúncios de nomes do primeiro escalão.
O modelo, parecido com o adotado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de quem Bolsonaro é declarado admirador, deverá permanecer com o capitão da reserva instalado no gabinete presidencial.
A mudança radical na política externa, que deverá ser uma das marcas do novo governo, poderá ser testada já no final do primeiro mês de mandato, caso Bolsonaro compareça --como tem sinalizado que fará-- ao Fórum Econômico Mundial, na cidade suíça de Davos.
Após a sua estreia no palco internacional, o novo presidente se ausentará do cargo para realizar a cirurgia de retirada da bolsa de colostomia, colocada após a facada de setembro que perfurou seu intestino e o obrigou a passar por duas cirurgias de emergência.
Primeiro militar a assumir a Presidência desde o fim da ditadura em 1985, Bolsonaro será temporariamente substituído nesses dois períodos --a possível viagem a Davos e a cirurgia-- pelo seu vice, o general da reserva Hamilton Mourão, que será assim o primeiro general a ocupar o Palácio do Planalto desde o fim do regime militar.
(Reportagem adicional de Mateus Mais, em Brasília, e Eduardo Simões, em São Paulo; Edição de Maria Pia Palermo e Alberto Alerigi Jr.)