Ao analisar o material apreendido na Operação Murder Inc., que prendeu o deputado Chiquinho Brazão (sem partido-RJ) e o irmão dele, o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ) Domingos Brazão, a Polícia Federal encontrou pistas que ajudam a reconstituir novos detalhes da dinâmica do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e das tentativas de encobrir o crime. As defesas de Chiquinho e Domingos foram procuradas, mas não haviam respondido até a publicação deste texto.
Segundo a PF, a estrutura da Polícia Civil do Rio foi usada para planejar o atentado, que ainda vitimou o motorista Anderson Gomes. Os investigadores descobriram que um inspetor da corporação pesquisou o nome do pai de Marielle nos sistemas da polícia, em 21 fevereiro de 2018, a menos de um mês da execução. O agente chegou a ser intimado e prestou depoimento. Ele alegou não lembrar o motivo da consulta e o nome consultado.
Ex-chefe da corporação, o delegado Rivaldo Barbosa foi denunciado como um dos envolvidos no plano de assassinato. Ele nega participação no homicídio. Em nota, a defesa afirmou que "as diligências complementares não acrescentaram nada à investigação".
De acordo com a PF, o delegado costumava usar servidores, sistemas e a estrutura da Polícia Civil para "fins particulares". Há suspeita de que vendia informações em troca de propina. Os dados estão reunidos no relatório produzido a partir da perícia nos documentos, celulares, pendrives, HDs e computadores apreendidos em março. O documento também destaca a proximidade entre os irmãos Chiquinho e Domingos Brazão com "policiais com histórico desabonador".
'Simbiótica'
A PF afirma que a relação da família com a Polícia Civil era "simbiótica". "Inclusive com a promíscua indicação de familiares de chefes de polícia para cargos em comissão e afins."
O relatório também joga luz sobre o pós-crime. Os investigadores acreditam que os irmãos Chiquinho e Domingos Brazão podem ter usado emissários para buscar acesso a dados sigilosos da investigação. Além de revelar novos detalhes do caso, o material apreendido levou a PF a pedir novas investigações, que não têm relação direta com o caso Marielle. Envolvem suspeitas de desvio de emendas parlamentares e lavagem de dinheiro.
Uma advogada do Anil, área dominada pela milícia, na zona oeste do Rio, procurou as defesas dos executores Élcio Queiroz e Ronnie Lessa, ambos delatores, e pediu acesso aos autos do processo sigiloso para "aprender na prática como as coisas acontecem". A PF classificou a abordagem como "estranha". Em depoimento, ela admitiu conhecer milicianos ligados ao clã Brazão. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.