BRASÍLIA (Reuters) - Eventuais embargos estrangeiros à carne brasileira após escândalo sobre a venda de produtos adulterados representaria um desastre, afirmou o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, acrescentando que o governo se esforça para limitar as restrições aplicadas pelos países às 21 fábricas identificadas na operação Carne Fraca, da Polícia Federal.
Importantes mercados consumidores de carne brasileira decidiram nesta segunda-feira suspender ou elevar as exigências para a importação do produto. China, União Europeia, Chile e Coreia do Sul emitiram nesta segunda-feira comunicados em que citaram preocupações.
"Com toda certeza (a proibição à compra seria) um desastre. Porque a China é um grande importador nosso. A Comunidade Europeia, além de ser nosso segundo ponto de exportação, é também nosso cartão de visitas. Quem vende para a Europa vende para muitos países, que muitas vezes nem pedem fiscalizações nossas porque sabem que temos um sistema bom", disse Maggi.
"Eu torço, eu rezo, eu penso, eu trabalho pra que isso não venha acontecer", completou o ministro em coletiva de imprensa nesta segunda-feira.
Maggi afirmou que o governo está trabalhando para que as restrições fiquem circunscritas às 21 plantas que estão sob suspeita, que tiveram suas licenças de exportação suspensas pelo governo. Entre elas, estão unidades de gigantes do setor, como JBS (SA:JBSS3) e BRF (SA:BRFS3).
Para o mercado interno, contudo, apenas três dessas plantas foram interditadas: a da BRF localizada em Mineiros (GO) e as da Peccin Agro Industrial em Jaraguá do Sul (SC) e Curitiba. As demais passarão por auditoria nas próximas três semanas.
"No mercado externo nós temos que correr", disse o ministro. "Nós não podemos permitir o fechamento. Uma vez que haja o fechamento de um mercado desse, para você reabrir serão muitos anos de trabalho", afirmou.
Durante a coletiva, Maggi afirmou que é natural esperar manifestação dos mais de 30 países para os quais essas fábricas exportaram. Entre eles estão grandes mercados, como os Estados Unidos e Rússia. Nesta segunda-feira, inclusive, o Departamento de Agricultura norte-americano começou a testar para patógenos todas as remessas de carne in natura e pronta para consumo do Brasil.
No âmbito dos esforços que estão sendo feitos, Maggi afirmou que técnicos do ministério da Agricultura participarão de teleconferência nesta noite com autoridades chinesas para o esclarecimento de novos pontos, com o objetivo de "minimizar" a questão.
Em relação ao Chile, Maggi destacou que o governo ainda não tem dimensão da restrição, se abrange ou não todo o mercado de carne brasileiro. Se este for o caso, o governo poderá inclusive adotar medidas de retaliação, com suspensão de importação de produtos do país vizinho.
"Se eu tiver que ter reação mais forte com o Chile eu terei. Não há dúvida nenhuma", disse Maggi, afirmando ter recebido autorização do presidente Michel Temer para ser mais duro nesse sentido.
Diante da repercussão negativa da operação em mercados tão exigentes e com a perda no valor de mercado em bolsa de grandes empresas do setor, representantes da indústria brasileira criticaram nesta segunda-feira a generalização adotada pela PF na divulgação da operação.
Segundo Maggi, o ministério da Agricultura continua dando apoio à PF para o combate à corrupção. Ele ressaltou, entretanto, que é necessário que a Polícia Federal tenha conhecimento técnico quanto ao uso de termos e procedimentos na divulgação de informações.
"E que não venham a público com coisas alarmistas como foi feito na última apresentação", complementou.
(Por Marcela Ayres)