Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - O ex-ministro Geddel Vieira Lima foi preso pela Polícia Federal nesta segunda-feira em Salvador, por decisão do juiz Vallisney de Souza do Tribunal Regional Federal, em Brasília, dentro da operação Cui Bono, que investiga irregularidades na Caixa Econômica Federal.
De acordo com o Ministério Público Federal, a decisão foi tomada a pedido da Polícia Federal e da força tarefa da operação Greenfield --também responsável pela Cui Bono, que investiga Geddel por liberações fraudulentas de recursos quando era vice-presidente de pessoa jurídica do banco. Geddel é acusado de tentar interferir nas investigações.
A prisão do ex-ministro Geddel é preventiva e tem como base os depoimentos do operador financeiro Lúcio Funaro, do executivo da JBS (SA:JBSS3) Joesley Batista e do diretor jurídico do grupo J&F, Francisco de Assis e Silva.
"No pedido enviado à Justiça, os autores afirmaram que o político tem agido para atrapalhar as investigações. O objetivo de Geddel seria evitar que o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha e o próprio Lúcio Funaro firmem acordo de colaboração com o Ministério Público Federal (MPF). Para isso, tem atuado no sentido de assegurar que ambos recebam vantagens indevidas, além de 'monitorar' o comportamento do doleiro para constrangê-lo a não fechar o acordo", disse o MP em nota.
Em seu depoimento à Polícia Federal, há duas semanas --dentro do processo que investiga o presidente da República, Michel Temer, por obstrução à Justiça-- Funaro afirmou que Geddel procurou sua mulher, Raquel, várias vezes depois da divulgação de que os donos da JBS, Joesley e Wesley Batista, haviam feito um acordo de delação premiada.
Geddel, que aparece com o apelido "Carainho" no telefone de Raquel, fez pelo menos 12 ligações pelo aplicativo Whatsapp entre os dias 17 de maio e 1º de junho deste ano. A primeira delas logo depois da publicação das primeiras informações sobre a delação premiada dos executivos da JBS pelo jornal O Globo.
Segundo Funaro, a intenção do ex-ministro era saber se Funaro também negociava uma delação premiada. Preso desde junho de 2016, o operador financeiro, que trabalhava com a cúpula do PMDB, mudou recentemente de advogado e confirmou à PF que negocia a delação. Fontes afirmaram à Reuters que a negociação deve ser fechada nas próximas semanas.
Geddel é acusado, na operação Cui Bono, de agir para garantir a liberação de recursos da Caixa em troca de propinas, em um esquema que envolveria também o deputado cassado Eduardo Cunha, além do próprio Funaro e do ex-vice-presidente da Caixa Fabio Cleto.
"Entre os beneficiados do esquema ilícito aparecem companhias controladas pela holding J&F, cujos acionistas firmaram recentemente acordo com o MPF. O aprofundamento dos indícios descobertos com a análise do conteúdo armazenado no aparelho telefônico apreendido permitiu aos investigadores constatarem intensa e efetiva participação de Geddel Vieira Lima no esquema criminoso", diz a nota do MPF.
Além da prisão preventiva, a Justiça acatou os pedidos de quebra de sigilos fiscal, postal, bancário e telemático do ex-ministro.
Há cerca de três semanas, quando começaram a correr boatos de que poderia ser preso, o ex-ministro ofereceu à Justiça seus sigilos fiscal e bancário, e a entrega de seu passaporte, em uma tentativa de evitar a prisão.