Em depoimento à Polícia Federal (PF), o ex-secretário da Receita Federal Julio Cesar Vieira Gomes afirmou que tratou com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) sobre a apreensão das joias sauditas no Aeroporto de Guarulhos (SP) em ao menos duas ocasiões. Na primeira conversa sobre o tema, o então presidente questionou se Vieira Gomes sabia algo sobre a retenção dos brilhantes. O secretário respondeu que desconhecia a questão, mas prometeu a Bolsonaro que "iria pesquisar" a respeito. Dias depois, o chefe do Executivo perguntou a Vieira Gomes o resultado da apuração.
A informação consta no relatório da investigação da PF sobre o caso das joias sauditas, revelado pelo Estadão. Além de Jair Bolsonaro, outros 11 aliados foram indiciados pela corporação - entre eles, o próprio Vieira Gomes e o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do presidente. Segundo a Polícia Federal, foi Cid o destinatário das informações colhidas por Vieira Gomes. O secretário acionou servidores da Receita para levantar os dados solicitados por Jair Bolsonaro.
"Ao final da reunião, o Presidente da República questionou ao declarante (Julio Cesar Vieira Gomes) se tinha ciência de alguma apreensão da Receita Federal decorrente de uma viagem para Arábia Saudita", diz o relatório da PF, citando o depoimento do ex-secretário à corporação.
Esta reunião, segundo Vieira Gomes, foi realizada na primeira quinzena de dezembro de 2022, nas dependências do Palácio do Planalto. "O declarante respondeu que não tinha ciência, mas que iria pesquisar". Em 27 de dezembro, em uma nova reunião com o presidente, já nos últimos dias de gestão, o assunto veio à tona novamente.
Além do depoimento em que admite que o então presidente o impeliu a agir sobre a apreensão dos presentes, uma troca de mensagens interceptada pela PF indica que o ex-secretário e Mauro Cid pretendiam "recuperar os bens" retidos.
Os advogados de Jair Bolsonaro alegam que os presentes recebidos pelo ex-presidente seguiram um protocolo rigoroso de tratamento e catalogação pelo Gabinete Adjunto de Documentação Histórica (GADH), em um trâmite sem influência do ex-chefe do Executivo. Já a defesa de Vieira Gomes pontua que as conclusões do inquérito da PF "são tecnicamente equivocadas".