Por Maria Carolina Marcello e Brad Brooks
BRASÍLIA (Reuters) - Diante do quadro de instabilidade e turbulência política deflagrado a partir da divulgação de delações de executivos do grupo J&F, controlador da JBS (SA:JBSS3), o governo conta no cenário atual com uma margem de apenas 220 a 230 votos para aprovar a reforma da Previdência, disse à Reuters uma fonte do Congresso que participa ativamente das negociações.
Antes do terremoto político, calculava-se um piso de 290 votos seguros, e um excedente de votos que alcançaria um resultado entre 315 e 317.
Mas com a crise política instalada, o governo viu o placar construído às custas de muita negociação ser desidratado e precisará correr atrás do prejuízo se quiser alcançar os 308 votos necessários para aprovar a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que modifica as regras previdenciárias.
O atual cenário pode forçar o governo a novas flexibilizações da proposta em tramitação. Segundo essa mesma fonte, um dos pontos mais suscetíveis a eventuais mudanças é a regra de transição.
“A possibilidade de negociação nesse momento em que estamos é alta”, disse. “Quanto mais frágil estiver o governo, maior a possibilidade de mudança na proposta.”
Tanto essa fonte quanto outro importante parlamentar reconhecem que não há ambiente político para a votação da reforma previdenciária por ora.
Disseram também não haver um cronograma claro de votação, apesar de o presidente Michel Temer ter afirmado nesta terça-feira, em Moscou, onde está em visita oficial, esperar que a reforma seja votada em primeiro turno na Câmara antes do recesso do Congresso. [nL1N1JH0R4]
De acordo com uma fonte palaciana, os ministros do Planalto vão recomeçar esta semana o mapeamento dos votos para ver o estrago causado pelas delações e o quão longe o governo está dos 308 votos necessários para aprovar a PEC.
"Estava tudo em suspenso. Essa semana os ministros recomeçam as conversas", disse a fonte.
Nesta terça-feira, o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, já se reuniu com os líderes do governo na Câmara, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), e no Congresso, André Moura (PSC-SE).
A avaliação das fontes parlamentares, no entanto, é que antes de se debruçar sobre a polêmica proposta, o governo deve concluir a tramitação da reforma trabalhista no Senado --onde, por um “vacilo”, sofreu uma derrota política nesta terça-feira ao ver o parecer oficial ser rejeitado na Comissão de Assuntos Sociais (CAS), ainda que isso não interfira na tramitação da matéria.
Além disso, o governo precisará vencer ainda um capítulo crucial da crise política: a votação da provável denúncia que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, deve oferecer contra Temer.
Só então, se nenhum fato novo ou denúncia surgir, analisam, é que haverá um clima favorável para a votação da reforma da Previdência na Câmara.
(Reportagem adicional de Lisandra Paraguassu e Alonso Soto)