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Governo terá mais trabalho para articular sua base e derrubar segunda denúncia contra Temer

Publicado 06.10.2017, 19:01
© Reuters. O presidente brasileiro Michel Temer durante lançamento de nova linha de financiamento da Caixa Econômica Federal no Palácio do Planalto, em Brasília

Por Maria Carolina Marcello

BRASÍLIA (Reuters) - O governo terá de fazer um esforço maior para articular a sua base e derrubar a segunda denúncia contra o presidente Michel Temer e dois de seus ministros, avaliou um importante aliado.

É que ao já instável clima entre as legendas que integram o governo soma-se um mal-estar relacionado a demandas antigas ainda não cumpridas.

"Não é que o preço aumentou, é que surgiu a oportunidade de cobrar", avaliou a fonte, que preferiu não ser identificada. "É mais uma questão de passivos, de pendências desde antes da primeira disputa", afirmou.

Ainda que essa fonte não preveja um placar no plenário muito diferente dos números da votação da primeira denúncia, foi identificado um movimento de alguns aliados com a intenção de garantir que Temer passe por este segundo teste sem grandes demonstrações de força.

"Parte da base acha que pode dar menos votos a Temer. Não vão deixar a denúncia passar, mas não quer que ele saia muito fortalecido", explicou.

Para que a Câmara autorize o Supremo Tribunal Federal a julgar a denúncia são necessários os votos de 342 dos 513 deputados. Na primeira acusação, 263 deputados votaram contra a autorização e apenas 227 votaram a favor.

VIDA MAIS TRANQUILA NA CCJ

O aliado calcula, no entanto, que o placar na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) pode ser mais favorável ao presidente do que na primeira denúncia. Governistas têm levantado nomes e números na comissão, e avaliam trocas de titulares que possam votar contra a denúncia.

Na primeira denúncia, a CCJ precisou realizar duas votações, porque o parecer inicial, do deputado Sergio Zveiter (RJ) --então no PMDB e hoje no Podemos--, favorável à autorização, foi derrotado pelo voto de 40 dos 66 membros da comissão. Com isso, foi preciso um novo parecer, do deputado Paulo Abi-Ackel (PSDB-MG), contrário à autorização, aprovado por 41 votos.

Agora Temer é alvo de denúncia por obstrução da Justiça e organização criminosa, crime imputado a dois de seus ministros --Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência)-- que também integram a denúncia encaminhada à Câmara dos Deputados pela Procuradoria-Geral da República (PGR).

O pedido para instauração de processo contra os três já tramita na CCJ da Câmara, responsável por emitir um parecer sobre a denúncia, a ser posteriormente submetido ao plenário.

Na última quarta-feira, os advogados de Temer, Padilha e Moreira entregaram as manifestações das defesas, abrindo o prazo de cinco sessões para a comissão produzir o parecer.

O relator do caso, deputado Bonifácio de Andrada (PSDB-MG), já adiantou que deve apresentar um parecer entre terça-feira e a manhã de quarta-feira da próxima semana. A previsão, segundo calendário acertado no colegiado, é de início da discussão e da votação no dia 17 deste mês.

Bonifácio, aliás, ocupou o centro da mais recente turbulência envolvendo a denúncia contra Temer. Seu partido, o PSDB, que enfrenta uma cada vez mais forte divisão interna, resolveu pedir de volta a vaga ocupada pelo deputado na CCJ.

© Reuters. O presidente brasileiro Michel Temer durante lançamento de nova linha de financiamento da Caixa Econômica Federal no Palácio do Planalto, em Brasília

Para que Bonifácio continuasse na relatoria, foi necessário que o PSC, partido do líder do governo no Congresso, Andre Moura (SE), cedesse seu espaço no colegiado ao deputado tucano.

Segundo a fonte consultada pela Reuters, a situação da bancada do PSDB é, de fato, complexa, e "muito confusa".

A atuação pelo desligamento de Bonifácio da vaga tucana na comissão expôs o partido e, de quebra, irritou aliados que reclamam por mais espaço no governo. Para eles, não é justo uma sigla em que quase metade da bancada posiciona-se contra Temer comandar quatro ministérios.

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