Por Marcela Ayres
BRASÍLIA (Reuters) - O ministro da Economia, Paulo Guedes, quer aproveitar os holofotes conseguidos com a turbulenta audiência na Câmara dos Deputados para receber novos grupos de deputados com o objetivo de aumentar o apoio à reforma da Previdência, em detrimento dos encontros com empresários e agentes do mercado financeiro, disse uma fonte que integra a equipe econômica.
Os embates de Guedes na quarta-feira escancararam a ainda frágil base favorável à reforma, mas tiveram como saldo positivo atrair mais parlamentares para o entorno do ministro, avaliou a fonte, em condição de anonimato.
"Ele objetivamente assumiu o protagonismo desse debate", disse a fonte.
"É dar preferência na agenda ao atendimento dos parlamentares porque eles votam. Não adianta agora ele participar de reuniões de empresários porque eles estão de acordo. Esse pessoal já está conquistado e já é aderente à reforma. Mas não vota."
Após audiência de mais de seis horas --encerrada antes do previsto depois de o deputado Zeca Dirceu (PT-PR) afirmar que Guedes seria "tigrão" para cortar direitos dos trabalhadores, mas "tchutchuca" para mexer em privilégios de banqueiros-- o ministrou voltou ao seu gabinete cansado, segundo a fonte. [nL1N21L1V5]
Mas Guedes logo começou a receber avaliações positivas sobre sua participação, inclusive de parlamentares da velha guarda, retorno que o deixou "confortável" com as posições assumidas, acrescentou a fonte.
Agora, o sentimento é que o ministro deve aproveitar esse momento de projeção para seguir capitaneando, com intensidade, o debate pela aprovação da reforma da Previdência.
A leitura é que, com os encontros no Ministério da Economia, os parlamentares têm tempo de falar, serem ouvidos e também serem vistos como peças fundamentais no processo --exposição vista como crucial em tempos de interação com as bases via redes sociais.
Para a fonte, houve comportamento "de torcida" em relação à audiência, com Guedes marcando gol junto a parlamentares ao ser mais incisivo com a oposição, que dominou os questionamentos diante da falta de articulação dos deputados favoráveis à reforma para marcar presença na CCJ e expressar apoio mais contundente.
Durante sua participação, o ministro criticou o que viu como cobrança prematura em relação a medidas para taxar dividendos e combater renúncias tributárias, argumentando que a oposição, com quatro mandatos presidenciais, não enfrentou esses temas.
"Por que que não botaram imposto sobre dividendos? Por que deram benefícios para bilionários? Por que que deram dinheiro para JBS (SA:JBSS3), por que que deram dinheiro para o BNDES, por quê? Vocês estiveram no governo, nós estamos há três meses, vocês tiveram 18 anos, 18 anos no poder e não tiveram coragem de mudar", disse.
Os momentos de maior exaltação reverberaram nas redes sociais, com a hashtag "SomosTodosPauloGuedes" adentrando esta tarde como o segundo tópico mais comentado no Twitter, seguida, em quarto lugar, pela hashtag "TchutchucaDosBanqueiros".
Analistas políticos ponderam, no entanto, que, o ministro não conseguirá sozinho garantir apoio suficiente à reforma da Previdência e que a efetiva formação e mobilização de uma base aliada é que elevará as chances de aprovação da proposta.