BRASÍLIA (Reuters) - O candidato do PT a vice-presidente, Fernando Haddad, reafirmou nesta terça-feira que a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva será registrada na quarta-feira, último dia previsto pela legislação eleitoral, e defendeu que o ex-presidente tem a liderança necessária para que o país saia da crise e possa voltar a pensar “grande”.
Segundo Haddad, que participou de evento com presidenciáveis na União Nacional de Entidades do Comércio e Serviços (Unecs) na “condição de companheiro da chapa que será inscrita”, o programa do PT terá a capacidade tirar o país da crise e prevê, entre outros pontos, uma reforma do sistema tributário dos bancos, uma reforma tributária (adoção do IVA) e revisão do teto do gastos.
“Temos certeza que o programa que vai ser apresentado aqui... esse programa é capaz de tirar o país da crise com a agilidade necessária”, disse o petista, acrescentando que o registro da candidatura de Lula responde à confiança que é depositada em sua “capacidade de levar o país para sair da crise”.
“Nós sabemos que se ministrarmos a receita correta, o Brasil tem força suficiente para responder a esses estímulos muito rapidamente. Não falta força ao país, isso nós temos convicção. Não falta energia ao país. O que talvez esteja faltando é, em primeiro lugar, uma liderança política da estatura do presidente Lula. E em segundo lugar, um conjunto de medidas que mova a sociedade rumo ao desenvolvimento.”
Lula está preso desde abril cumprindo pena de 12 anos e 1 mês de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro no caso do tríplex no Guarujá. Ele deve ficar inelegível pela Lei da Ficha Limpa, que barra a candidatura de condenados por órgãos colegiados da Justiça.
O petista nega qualquer irregularidade e se diz alvo de uma perseguição política para impedi-lo de se candidatar.
PENSAR GRANDE
Haddad, que pode assumir a cabeça da chapa petista, foi o único candidato a vice a discursar no evento. Ele defendeu que é hora de pensar o país como “um todo”.
“Se ficarmos restritos àquilo que o mercado financeiro dita como regra, vamos nos reduzir. Nós vamos nos apequenar”, afirmou.
“Acho que a gente devia voltar a pensar grande”, pontuou. “Nós pensamos grande e nos tornamos grandes um tempo atrás. Aquilo não foi milagre, não foi um ponto fora da curva.”
O candidato à vice-presidente argumentou que o teto de gastos inviabiliza a gestão pública, é “irresponsável do ponto de vista fiscal” e impede que se ganhe “eficiência”.
Ao mesmo tempo, defendeu que é possível aumentar os gastos públicos e retomar obras --com foco na construção civil que gera “emprego imediato”-- com responsabilidade fiscal.
Sobre as mudanças no sistema de tributação de bancos, o candidato afirmou que é necessário dar um “basta” à “oligopolização” do setor e prometeu enfrentar a “cartelização”.
Para isso, explicou, seria necessária uma mudança na legislação tributária dos bancos, que passaria a ser regida por uma progressividade: “quanto mais o branco cobrar de spread, mais imposto vai ter que pagar”, referindo-se ao chamado spread bancário, que mede a diferença entre o custo de captação e a taxa cobrada pelos bancos ao consumidor final.
No caso do sistema tributário em geral, a ideia é, segundo Haddad, implantar um modelo de transição, com uma carga tributária líquida em determinado patamar que se manterá o mesmo durante a transição. Segundo o candidato, o ente federado não irá perder receita porque com a criação de um Imposto sobre Valor Agregado (IVA), e sua gradual compensação enquanto os “impostos velhos” são reduzidos, não haverá perda para os entes federados.
Para a reforma da Previdência, a ideia é abrir uma mesa de discussão com governadores e prefeitos e promover mudanças em regimes próprios, desde que pactuadas na mesa de negociação, sem penalizar o trabalhador rural, ou beneficiários do serviço de prestação continuada.
“Você não pode ter um proposta homogênea como o Temer propôs.”
Questionado sobre a proposta do candidato pelo PDT ao Planalto, Ciro Gomes, de se fazer um plebiscito sobre a reforma da Previdência, Haddad disse preferir um referendo, para que a população opine sobre um conjunto de iniciativas previamente discutidas.
Disse ainda não ver “diferença” entre a agenda econômica do candidato tucano à Presidência da República, Geraldo Alckmin, e a do atual presidente Michel Temer.
O candidato afirmou o ainda que a responsabilidade pelo combate ao crime organizado seja feito desde o início por forças federais, liberando as forças locais para o cuidado com a população.
(Reportagem de Maria Carolina Marcello e Ricardo Brito)