Por Anthony Boadle e Pedro Fonseca
BRASÍLIA (Reuters) - A Polícia Federal lançou nesta terça-feira uma nova fase da operação Lava Jato para cumprir mandados judiciais autorizados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) relacionados a pessoas com foro privilegiado, em um ação deflagrada com base nas delações de executivos da Odebrecht, informaram a PF e a Procuradoria-Geral da República (PGR).
De acordo com as autoridades, foram cumpridas ações cautelares baseadas em informações das delações premiadas de executivos da empreiteira homologadas pelo Supremo, que já passam a ser provas, mas essa fase da operação Lava Jato não faz parte de inquéritos pedidos pelo Procuradoria ao STF.
"O objetivo é investigar indícios dos crimes de corrupção ativa e passiva e lavagem de dinheiro", disse a PF em nota sobre a operação, chamada Satélites em referência ao fato de que os principais alvos da ação "gravitam em torno de pessoas com prerrogativas de foro", segundo a polícia.
O presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), é um dos envolvidos na operação. Segundo nota divulgada por sua defesa, Eunício "autorizou que fossem solicitadas doações, na forma da lei, a sua campanha ao governo do Estado do Ceará" na eleição de 2014. "O senador tem a convicção de que a verdade dos fatos, prevalecerá", finaliza a nota.
Outro envolvido, o também senador Humberto Costa (PT-PE), disse em nota estar "certo de que a ação da PF vai corroborar apuração realizada até agora, que aponta para o teor infundado da acusação e da inexistência de qualquer elemento que desabone a sua vida pública".
Segundo o canal de TV GloboNews, os mandados judiciais desta terça-feira também estão ligados aos senadores Renan Calheiros (PMDB-AL) e Valdir Raupp (PMDB-RO).
No total foram cumpridos 14 mandados em 13 endereços nas cidades de Brasília, Maceió, Recife, Rio de Janeiro e Salvador, de acordo com a Polícia Federal. Não foram divulgados pelas autoridades os nomes dos alvos dos mandados judiciais.
"Não é possível divulgar detalhes sobre os procedimentos porque os termos de depoimentos estão em segredo de justiça", disse a PGR em uma nota.
A operação é a primeira autorizada pelo Supremo com base nos acordos de delação premiada de 77 executivos da Odebrecht com a operação Lava Jato, e a sétima fase da Lava Jato que apura o envolvimento de pessoas com prerrogativa de foro junto ao STF.
Na semana passada, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, encaminhou ao STF 83 pedidos de abertura de inquérito com base nas delações.
A Odebrecht é uma de várias grandes empreiteiras que pagaram propinas milionárias a políticos e executivos de estatais, especialmente a Petrobras (SA:PETR4), durante anos, dentro do esquema de corrupção descoberto pela Lava Jato.
Segundo os procuradores da operação, até 350 novas investigações serão iniciadas em decorrência da leva de depoimentos de executivos da empresa, revelando como a corrupção percorre todo o espectro político, das menores cidades aos escalões mais altos do governo.
(Reportagem de Anthony Boadle, em Brasília, e Pedro Fonseca, no Rio de Janeiro; reportagem adicional de Maria Carolina Marcello, em Brasília)