(Reuters) - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou o depoimento que deu na ação penal em que é acusado de receber um tríplex como pagamento de propina para criticar a atuação do Ministério Público Federal (MPF) e do juiz Sérgio Moro na operação Lava Jato.
Lula disse a Moro considerar o processo ilegítimo e classificou a denúncia elaborada pelos procuradores como uma "farsa". Disse ainda que a denúncia do MPF foi baseada em denúncias publicadas pela imprensa.
“Como eu considero esse processo ilegítimo e a denúncia uma farsa, eu estou aqui em respeito à lei, em respeito à nossa Constituição, mas com muitas ressalvas ao comportamento dos procuradores da Lava Jato”, disse Lula a Moro.
O ex-presidente também criticou a apresentação da denúncia pela força-tarefa da Lava Jato em uma entrevista coletiva no ano passado e classificou as acusações feitas contra ele como "ilações". Ataca especialmente a apresentação de um Power Point feita pelo coordenador da força-tarefa da Lava Jato, Deltan Dallagnol, que não esteve presente na audiência desta quarta.
"O contexto está baseado em um Power Point mal feito e mentiroso da operação Lava Jato. Doutor Dallagnol deveria estar aqui para explicar aquele famoso Power Point... Aquele Power Point não está julgando Lula pessoa física ou pessoa jurídica. Está julgando Lula presidente da República", disse.
"Quem está sendo julgado é um estilo de governar, um jeito de governar. Se as pessoas que estão fazendo essa denúncia querem saber como se governa, elas têm que sair do Ministério Público, entrar num partido político, disputar as eleições, ganhar, para elas saberem como se governa. Governar democraticamente."
Moro afirmou então que o governo do petista não está em julgamento, ao que Lula rebateu: "Vamos ter uma divergência. O que está em julgamento é o meu governo".
O juiz questionou Lula sobre declarações recentes feitas em um ato político em que disse que pessoas que o querem prender podem, no futuro, acabar sendo presos por ele. Moro indagou se as declarações eram adequadas para um ex-presidente da República.
"Deixa eu dizer uma coisa para o senhor, com todo o respeito. Todos nós precisamos ter cuidado com as declarações. O senhor sabe, por exemplo, a mágoa profunda que eu tenho do vazamento das minhas conversas com a minha mulher e dela com os filhos dela. Profunda a minha mágoa. E eu nunca falei nada, estou tranquilo. O tempo se encarrega de recontar a história", disse.
Lula se referiu a interceptações telefônicas feitas com autorização da Justiça e divulgadas por Moro. Entre as conversas telefônicas, estão diálogos da ex-primeira-dama Marisa Letícia com filhos do casal. Moro acabou sendo repreendido pelo então relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Teori Zavascki, pela divulgação das interceptações.
Diante de uma série de perguntas feitas por Moro envolvendo Marisa Letícia, que morreu neste ano vítima de um acidente vascular cerebral, Lula disse ser difícil responder essas perguntas e atribuiu a morte da ex-primeira-dama à pressão que sofreu por causa da Lava Jato, pedindo para evitar falar da mulher.
“Eu tenho paciência, é que perguntar coisa para mim de uma pessoa que já morreu, é muito difícil”, disse o ex-presidente quando Moro lhe pediu paciência.
"Uma das causas que ela morreu foi a pressão que ela sofreu", disse.
(Por Eduardo Simões, em São Paulo)