Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai assumir a chefia da Casa Civil da presidente Dilma Rousseff, anunciou o governo nesta quarta-feira, em uma tentativa de evitar o impeachment da presidente e buscar reanimar a economia, mas a oposição já disse que irá recorrer contra a nomeação.
"A presidenta da República, Dilma Rousseff, informa que o ministro de Estado chefe da Casa Civil, Jaques Wagner, deixará a pasta e assumirá a chefia do Gabinete Pessoal da Presidência da República. Assumirá o cargo de ministro de Estado chefe da Casa Civil o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva", informou o Palácio do Planalto em comunicado.
A decisão de substituir Wagner por Lula ocorre em meio à forte deterioração política do governo e a uma escalada de denúncias no âmbito da operação Lava Jato contra o ex-presidente, que como ministro passará a ter foro privilegiado junto ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Lideranças da oposição criticaram a nomeação de Lula para o ministério e prometeram ingressar com ações na Justiça para tentar barrar a indicação.
"Estamos com as ações populares em vários Estados contra a nomeação de Lula como ministro da Casa Civil", disse o líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado (GO).
"Vamos comprovar a clara incidência de uma fraude ao usar de uma função de Estado para esconder um investigado da Justiça. Lula não vai servir ao povo brasileiro, vai se esconder da Lava Jato", acrescentou Caiado.
O líder do PT na Câmara, Afonso Florence (BA), rebateu os ataques da oposição. "O foro privilegiado nunca foi e nunca será motivo de obstaculização das investigações", disse, acrescentando considerar a nomeação de Lula "uma decisão de alta envergadura".
Lula participou de reunião com Dilma, Wagner e o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, no Palácio da Alvorada, nesta manhã, quando foi batido o martelo da entrada do ex-presidente no ministério.
Na véspera, fonte do Palácio do Planalto dissera à Reuters que Lula seria ministro da Secretaria de Governo, no lugar de Ricardo Berzoini. Nesta manhã, porém, Dilma e seus auxiliares chegaram à conclusão que a melhor pasta para o ex-presidente seria a Casa Civil, por ser um ministério com mais poder e mais espaço no governo, disse a fonte, sob condição de anonimato.
A ida de Lula para o ministério parecia inicialmente um movimento que tinha como principal objetivo garantir foro privilegiado, após o ex-presidente ter sido o principal alvo da fase mais recente da Lava Jato, que apura um esquema bilionário de corrupção.
Mas depois de o PMDB, partido do vice-presidente Michel Temer e o maior da coalizão governista, ter dado uma espécie de "aviso prévio" ao governo no último sábado e das grandes manifestações de domingo a favor do impeachment de Dilma, a participação de Lula passou a ser vista como importante para tentar reanimar o governo e evitar o impedimento da presidente.
A expectativa dentro do governo é de que Lula use sua reconhecida capacidade política num esforço de convencimento junto a parlamentares da base governista, especialmente no PMDB, para manterem seu apoio a Dilma e votarem contra o impeachment da presidente.
Tão difícil como a batalha do impeachment, outra tarefa de Lula seria dar uma sacudida no governo que ajude a impulsionar de algum modo a economia do país, mergulhada numa profunda recessão.
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), foi cauteloso em seus comentários iniciais sobre a nomeação de Lula.
“Não dá para fazer essa avaliação se ele teria ou não condição de resolver a crise. Seria muito essa projeção, mas ele tem boa relação com o Congresso, e eu torço que o Brasil melhore, que as coisas comecem a dar certo", disse Renan a jornalistas.
Expectativas de que Lula assumiria um ministério vinham pressionado os mercados financeiros desde o início da semana. A bolsa recuou fortemente nas duas últimas sessões e tinha uma sessão volátil nesta quarta-feira. Já o dólar se fortalecia pela terceiro dia seguido nesta sessão.
Jaques Wagner assumirá a chefia do gabinete pessoal de Dilma no lugar de Gilles Azevedo. Segundo a fonte do Planalto, ele terá status de ministro na nova função.
(Reportagem adicional de Maria Carolina Marcello)