RIO DE JANEIRO (Reuters) - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou o presidente do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), desembargador Carlos Eduardo Thompson Flores, e fez um assertivo discurso de campanha ao participar de um encontro com a classe artística do Rio de Janeiro na noite de terça-feira, em um teatro da cidade.
Lula foi condenado no ano passado a 9 anos e 6 meses de prisão pelo juiz federal Sérgio Moro no processo referente a um tríplex no Guarujá no âmbito da operação Lava Jato, e o julgamento do recurso da defesa será feito pela 8ª Turma do TRF-4, em Porto Alegre, no dia 24 de janeiro.
Uma decisão do colegiado contrária a Lula poderá impedir uma nova candidatura do petista, atual líder de pesquisas em todos os cenários, e o ex-presidente criticou o fato de o desembargador ter se reunido com autoridades em Brasília esta semana para tratar do julgamento.
“Esse cidadão vai a Brasília pedir proteção da Suprema Corte sem dizer quem está ameaçando. Esse cidadão é bisneto do general Thompson Flores, que invadiu Canudos e matou Antônio Conselheiro. É da mesma linhagem. Quem sabe esteja me vendo como cidadão de Canudos”, disse Lula em discurso.
O desembargador Thompson Flores se reuniu esta semana com a presidente do STF, Cármen Lúcia, para tratar da segurança do julgamento de Lula, após notícias de ameaças a membros do TRF-4 motivadas pelo julgamento da apelação do ex-presidente, segundo uma fonte com conhecimento do encontro.
Lula também disparou críticas contra a mídia, e prometeu regular os meios de comunicação caso eleito presidente na votação de outubro deste ano.
"Eu quero que eles saibam. Trabalhem pra eu não voltar. Porque se eu voltar vai haver uma regulação dos meios de comunicação", afirmou. "A gente não pode continuar permitindo que meia dúzia de famílias sejam donas dos meios de comunicação".
Apesar do discurso firme e de garantir que sua "vontade de brigar continua sendo a mesma", o ex-presidente disse que ainda é o "Lulinha Paz e Amor".
"Eles estão brigando com um cidadão que não queria briga, com um cara que saiu da Presidência e achou que poderia passar a viver tranquilamente", afirmou.
"Não tenho mais idade pra ter raiva. Mas tenho idade pra saber que tenho que fazer algumas coisas que não fiz. Por exemplo, estou dizendo em alto e bom som que vou federalizar o ensino médio nesse país", disse.
Lula também voltou a negar que seja dono do tríplex no Guarujá, e lembrou a origem humilde e simples para se defender da acusação de ter sido beneficiado pela construtora OAS na negociação no imóvel.
“Meu compromisso é com o povo brasileiro... tive uma infância pobre e não ia ser agora que eu ia roubar apartamento de 500 mil reais quando poderia ter apartamento cheio de mala com dinheiro, quando poderia estar participando desse conjunto da Odebrecht, ter participado de conta na Suíça”, afirmou.
Do lado de fora do teatro onde foi realizado o evento com Lula no bairro do Leblon, um dos mais caros da cidade, um grupo de pessoas protestou contra a presença do ex-presidente com faixas como “Lula no Leblon não” e “Lula na cadeia”.
(Reportagem de Rodrigo Viga Gaier)