Por Lisandra Paraguassu
CURITIBA (Reuters) - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva resistiu o quanto pôde, mas ao entregar nesta terça-feira o posto de candidato do PT à Presidência a Fernando Haddad, mostrou a seu público que o ex-prefeito é agora o seu nome nas urnas e pediu explicitamente votos para seu pupilo na carta em que admitiu que não seria candidato.
"Um homem pode ser injustamente preso, mas as suas ideias, não. Nenhum opressor pode ser maior que o povo. Por isso, nossas ideias vão chegar a todo mundo pela voz do povo", escreveu Lula no texto lido pelo advogado Luiz Eduardo Greenhalgh, um dos fundadores do PT.
"Por isso, quero pedir, de coração, a todos que votariam em mim, que votem no companheiro Fernando Haddad para presidente da República."
A carta de 21 parágrafos --chamada de Carta ao Povo Brasileiro-- foi preparada por Lula com Haddad ao longo dos últimos dois dias. Na manhã de segunda-feira, o agora candidato a presidente teve o primeiro encontro com Lula, acompanhado dos advogados.
Ainda com pedidos de liminares ao Supremo Tribunal Federal sendo analisadas, o ex-presidente terminou a manhã orientando seus advogados a esperar mais um pouco pela decisão judicial mas já começou a trabalhar a transição.
Contrariando um grupo liderado pela presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e a ex-presidente Dilma Rousseff, que defendiam a tentativa de fazer a troca apenas no dia 17, Lula instruiu o partido para respeitar a data dada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para não correr o risco de o partido ficar sem uma candidatura.
"Vocês me conhecem e sabem que eu jamais desistiria de lutar", escreveu Lula, lembrando da mulher, Marisa, morta no ano passado, e afirmando que o Judiciário brasileiro por "omissão e protelação", em um processo cheio de "aberrações", "privou o país de um processo eleitoral com a presença de todas as forças políticas".
"É diante dessas circunstâncias que tenho de tomar uma decisão, no prazo que foi imposto de forma arbitrária. Estou indicando ao PT e à coligação 'O Povo Feliz de Novo' a substituição da minha candidatura pela do companheiro Fernando Haddad, que até este momento desempenhou com extrema lealdade a posição de candidato a vice-presidente", diz Lula na carta lida por Greenhalgh.
No terreno em frente à Polícia Federal em Curitiba onde há 158 dias apoiadores fazem uma vigília pela liberdade do ex-presidente, militantes, fãs e integrantes de movimentos sociais que foram chegando aos poucos, no início da tarde, e ocuparam as ruas no entorno, podiam ser contados às centenas, apesar do partido não ter organizado com antecedência um movimento.
Por mais de duas horas, esperaram no frio da tarde curitibana por um sinal do ex-presidente e de seu substituto.
Depois de ser confirmado como candidato por aclamação na reunião da Executiva do partido, em um hotel no centro de Curitiba, Haddad se reuniu com Lula por mais de uma hora. De acordo com uma fonte, o ex-presidente manteve a serenidade, mesmo indignado com as decisões que o impediram de concorrer, e conversou com Haddad sobre os rumos da campanha.
"Ele está enfrentando bem", garantiu a fonte.
Condenado pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) por corrupção e lavagem de dinheiro no processo do tríplex do Guarujá, Lula teve sua candidatura presidencial barrada pelo TSE com base na Lei da Ficha Limpa. O prazo para a substituição da cabeça de chapa se encerrava nesta terça-feira.
HADDAD
Em sua carta, Lula dá o tom que a campanha vai adotar para tentar fazer com que Haddad herde os votos do ex-presidente, que teve, nas últimas pesquisas em que seu nome foi incluído, entre 37 e 39 por cento das intenções de voto: Haddad é Lula.
"Se querem calar nossa voz e derrotar nosso projeto para o país, estão muito enganados. Nós continuamos vivos, no coração e na memória do povo. E o nosso nome agora é Haddad", escreveu o ex-presidente. "Nós já somos milhões de Lulas e, de hoje em diante, Fernando Haddad será Lula para milhões de brasileiros."
Com apenas 26 dias até as eleições, o partido aposta tudo na vinculação da figura de Haddad à de Lula. Durante esta terça, assim que a mudança foi aprovada pela Executiva, o partido começou nas redes sociais uma campanha de textos apresentando Haddad e sua ligação com Lula. Um novo jingle foi lançado, centrado em Haddad e, principalmente, no número do partido.
"Lula mostrou o caminho da verdade, é Haddad para fazer aquele Brasil voltar, vem com Haddad, vem com Lula, vote 13", diz a letra, que repete ainda várias vezes o número 13, em uma reedição do jingle da campanha do candidato à prefeitura de São Paulo, em 2012, quando era, como agora, um desconhecido fora do partido.
Na TV, nesta terça, o programa do PT foi uma despedida de Lula e uma primeira apresentação de Haddad.
"A razão da minha vida é lutar. Lutar sonhando em conquistar coisa para esse país. Tentar provar que é possível melhorar a vida das pessoas. E ninguém, a não ser Deus, vai fazer com que eu pare de fazer isso.", diz o ex-presidente em um vídeo pré-gravado.
Em seguida, Haddad aparece, já pela primeira vez como candidato a presidente.
"Lula foi o melhor presidente que o país já teve. Nós sabemos que ele ganharia essa eleição. Infelizmente insistem em tirar o Lula contrariando a ONU e a vontade do povo brasileiro", diz o ex-prefeito. "Lula pediu: vamos continuar juntos, unidos. Vamos todos votar no 13 para vencer as injustiças e fazer o Brasil feliz de novo."
De acordo com uma fonte, na próxima quinta-feira, o partido deve colocar no ar o primeiro programa centrado na campanha de Haddad. O trunfo deve ser mais um vídeo de Lula, gravado antes da prisão do ex-presidente, em que ele apresenta o novo candidato como o seu nome na campanha.