Por Eduardo Simões
SÃO PAULO (Reuters) - Em um discurso forte e pontuado de ironias contra a imprensa, o juiz Sérgio Moro e os procuradores da Lava Jato, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou nesta quinta-feira que buscará ser candidato à Presidência no ano que vem pelo PT e que os que acreditam que a condenação que recebeu na véspera foi seu fim vai "quebrar a cara".
Em pronunciamento à imprensa e a militantes em uma apertada e concorrida sala na sede do Diretório Nacional do PT no centro de São Paulo, Lula acusou a imprensa --especialmente a TV Globo--, Moro e os procuradores da Lava Jato de disseminarem mentiras sobre ele para condená-lo no caso envolvendo o tríplex no Guarujá.
"Se alguém pensa que com essa sentença me tiraram do jogo, podem saber que eu estou no jogo", disse Lula.
"A partir de agora, eu vou reivindicar do PT o direito de postular a candidatura à Presidência da República", acrescentou o ex-presidente atraindo aplausos tanto de lideranças de petistas que estavam dentro da sala quanto de centenas de militantes que acompanham o pronunciamento na rua, do lado de fora da sede petista.
Após o anúncio, dentro e fora da sala petistas gritaram "Brasil Urgente, Lula presidente". As pesquisas de intenção de voto para a eleição presidencial do ano que vem apontam Lula na liderança da preferência do eleitorado e ele é vista como único candidato viável do PT ao Palácio do Planalto.
Dirigindo-se à presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PR), Lula disse em tom de ironia, que ela terá o problema de ter um candidato com problemas jurídicos, ao mesmo tempo que afirmou que seus advogados recorrerão da decisão de Moro.
"Quem acha que é o fim do Lula vai quebrar a cara, porque somente na política quem tem o direito de decretar o meu fim é o povo brasileiro", disse Lula.
Caso a sentença, de condenação a 9 anos e meio de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro --sem detenção imediata-- seja confirmada pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região, Lula estará impedido de ser candidato na eleição do ano que vem.
Na primeira sentença dos cinco processos em que Lula é réu --três só na Lava Jato--, Moro também determinou que o ex-presidente fique impedido de exercer cargos públicos por 19 anos. Esse dispositivo, no entanto, fica suspenso a partir do momento que os advogados de Lula recorrerem da sentença.
"O que aconteceu ontem eu já previa em 16 de outubro do ano passado", disse Lula sobre a condenação. "Eu acreditava que esse processo ia terminar do jeito que terminou. Eles já estavam com a concepção da condenação pronta", disse.
O ex-presidente declarou-se indignado e disse que não fazia críticas ao Ministério Público ou à Polícia Federal, mas sim aos agentes desses órgãos que atuam na Lava Jato.
Ele negou novamente ser dono do tríplex e disse que, na visão de advogados, a sentença de Moro é uma lição de "como não fazer uma peça condenatória". Afirmou ainda que a única prova existente no processo é a de sua inocência
"O que me deixa indignado, mas sem perder a ternura, é perceber que você está sendo vítima de um grupo de pessoas que contaram a primeira mentira e vão passar a vida inteira para justificar a primeira mentira que contaram que o Lula era dono de um tríplex", disse o ex-presidente.
"Mas a minha indignação não me faz perder a crença de que nesse país haja justiça, por isso nós vamos recorrer", garantiu.
JORNAL NACIONAL
Ao fazer uma série de agradecimentos no início de sua fala, Lula agradeceu a presença da imprensa, "especialmente do Jornal Nacional", provocando risos de lideranças petistas ao referir-se ao principal telejornal da TV Globo.
Em outro ponto do discurso, acusou a emissora de ser a principal responsável pela disseminação do ódio no Brasil e disse que os que produzem o telejornal serão cobrados no futuro por seus filhos por conta das "mentiras" que contam.
Lideranças petistas pretendem discutir ainda nesta quinta um calendário de mobilizações e protestos em defesa de Lula para, segundo o ex-ministro Gilberto Carvalho, esclarecer a população sobre o que afirmou serem injustiças sofridas por Lula.
O advogado do ex-presidente, Cristiano Zanin Martins, também presente no pronunciamento, disse que a defesa recorrerá a todas as instâncias cabíveis contra a decisão de Moro e disse que, no momento, não existem impeditivos jurídicos à candidatura de Lula ao Palácio do Planalto no ano que vem.