Por Lisandra Paraguassu
CURITIBA (Reuters) - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva prestou depoimento ao juiz Sérgio Moro nesta quarta-feira no tribunal da Justiça Federal do Paraná, em Curitiba, sob forte esquema de segurança e em meio a manifestações de apoio.
O depoimento durou quase cinco horas, superando, em muito, as expectativas iniciais.
A Justiça Federal do Paraná esperava que o depoimento do ex-presidente durasse cerca de duas horas. O grupo de participantes --formado por Moro, Lula, dois de seus advogados e três procuradores federais-- chegou a fazer um rápido intervalo, informaram fontes à Reutes.
Ao chegar ao Fórum de Curitiba, Lula desceu do carro na frente do prédio, no início da tarde, e entrou a pé. Um pouco antes, enquanto se dirigia ao tribunal, também desembarcou para cumprimentar apoiadores que gritavam seu nome, caminhou por alguns metros aos gritos de "Lula, guerreiro do povo brasileiro" e chegou a pegar uma bandeira do Brasil para acenar.
Dos prédios ao lado do local, algumas pessoas contrárias ao ex-presidente chegaram a bater panelas, mas o som foi abafado pelos militantes.
Cerca de 500 policiais militares foram mobilizados para cercar o edifício da Justiça Federal e atiradores de elite foram posicionados nos edifícios vizinhos, dada a expectativa de que milhares de militantes chegariam a Curitiba para se manifestar em apoio ao ex-presidente. Em toda a cidade, foram mobilizados 1,7 mil policiais militares.
No entanto, no entorno da Justiça Federal, concentraram-se apenas jornalistas e moradores, autorizados a circular nos 150 metros cercados pela PM.
"LULA, GUERREIRO"
O depoimento de Lula é referente ao processo sobre o apartamento tríplex no Guarujá (SP), que, segundo a acusação, teria sido dado a Lula pela empreiteira OAS em troca da favores. A defesa do ex-presidente afirma que o apartamento não é e nunca foi de Lula, que teria apenas uma opção de compra, nunca exercida.
Lula embarcou nesta manhã de São Paulo rumo à capital paranaense para o depoimento marcado para as 14h. O ex-presidente foi recepcionado por cerca de 50 parlamentares e outros petistas de alto escalão, incluindo a ex-presidente Dilma Rousseff e os governadores do Acre, Tião Viana, e do Piauí, Wellington Dias, no hangar de uma companhia de jatos fretados, aos gritos de "Lula, guerreiro do povo brasileiro".
Sorridente, o ex-presidente posou para fotos e vídeos antes de deixar o local.
Usando um terno cinza, Lula também colocou a gravata com as cores da bandeira brasileira que costuma usar em momentos em que pretende passar uma mensagem de amor ao país. Foi desenhada para ser usada no anúncio da escolha do Rio de Janeiro para sediar a Olimpíada de 2016.
"Foi uma demonstração forte de apoio, vários deputados, senadores, uma quantidade boa de gente. O presidente está muito tranquilo", disse o deputado Carlos Zarattini (SP).
Do hangar, Lula foi para um escritório de advocacia. Localizado em um bairro residencial, havia pouca movimentação no local, cercado por um muro alto e cerca elétrica. Ao identificar a presença de jornalistas, no entanto, curiosos começaram a parar para esperar o ex-presidente sair.
No centro de Curitiba, defensores de Lula se concentravam em uma praça, depois de uma marcha do acampamento onde passaram a noite. Deputados e senadores também foram ao local.
Um grupo de cerca de 200 pessoas do MST conseguiu chegar até a primeira barreira que cerca o prédio da Justiça Federal do Paraná, onde Lula parou para cumprimentá-los antes de chegar ao Fórum.
Depois da audiência, Lula deveria ir a praça, no centro de Curitiba, onde se concentram seus apoiadores, disseram à Reuters fontes próximas ao ex-presidente.
Segundo a Polícia Militar, cerca de 4,5 mil pessoas estariam no local. Já a Polícia Rodoviária Federal informou que até o início desta quarta-feira foram abordados 168 ônibus na chegada a Curitiba, com cerca de 6,7 mil militantes –-com o esclarecimento de que nem todos os ônibus foram parados para inspeção.
"REPÚBLICA DE CURITIBA"
Do outro lado, entre 50 e 100 pessoas contrárias ao ex-presidente se concentraram em frente ao Museu Oscar Niemeyer --a cerca de um quilômetro do Fórum de Curitiba-- para protestar, com balões, bandeiras verde e amarelas e um boneco de Lula como presidiário.
A escrivã da Polícia Federal licenciada Deborah Torres --Moradora do entorno do Fórum e, portanto, autorizada a circular-- aproveitou para ir ao local distribuir bloquinhos imitando um passaporte da “República de Curitiba”, marca da qual é dona, para os policiais militares em serviço.
Deborah é fundadora de um grupo no Facebook de apoiadores da Lava Jato do mesmo nome, apenas de mobilizações online.
“É um grupo declaradamente contrário ao ex-presidente Lula, pró-Moro e pró-Lava Jato. Não fazemos manifestações de rua”, disse. “Aproveitei que moro aqui no perímetro para distribuir uns brindes.”
Além do passaporte, adesivos em defesa da operação. Segundo ela, todos produzidos e pagos do próprio bolso.
Três pedidos de liminar impetrados pela defesa do ex-presidente no Superior Tribunal de Justiça (STJ) na terça-feira foram negados nesta quarta-feira, mantendo o depoimento desta tarde como previsto.