BRASÍLIA (Reuters) - Governistas elogiaram operação da Polícia Federal nesta quinta-feira que resultou na prisão do ex-ministro da Fazenda Guido Mantega, revogada horas depois, enquanto petistas acusaram uma articulação para enfraquecer o PT às vésperas das eleições e criticaram o fato de a detenção ter ocorrido em hospital de São Paulo, onde o ex-ministro acompanharia uma cirurgia da esposa.
O mais longevo ministro da Fazenda do Brasil e homem próximo ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que virou réu em outro inquérito da Lava Jato nesta semana, Mantega foi preso pela Polícia Federal em São Paulo nesta manhã em uma nova fase da operação Lava Jato, que investiga crimes de corrupção e lavagem de dinheiro envolvendo obras da Petrobras (SA:PETR4) para exploração de petróleo no pré-sal.
A prisão, no entanto, foi revogada pelo juiz Sérgio Moro, responsável pelas investigações.
O líder do PSDB no Senado, Paulo Bauer (SC), defendeu a necessidade de se passar o "país a limpo" e que todos os envolvidos em ilegalidades sejam punidos.
"Se por um lado nós ficamos tristes sabendo que ainda não terminou o processo de descoberta de coisas erradas, de coisas ilegais feitas na Petrobras, por outro lado nos resta comemorar o trabalho que é feito pela Polícia Federal, pelo Ministério Público e pela Justiça", disse Bauer.
Outros integrantes da base do governo de Michel Temer, como o líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado (GO), e o líder do partido na Câmara, Pauderney Avelino (AM), também aproveitaram o episódio para fazer críticas ao PT.
"Mestre da contabilidade criativa, Mantega foi também o criador da nova matriz econômica que quebrou o Brasil. Agora também vemos que ele era um dos que achacavam empresários para dar dinheiro ao Partido dos Trabalhadores", disse Avelino.
O ex-ministro foi o principal condutor da política econômica do governo, especialmente no primeiro mandato da ex-presidente Dilma Rousseff.
O PT, por sua vez, em sua figura mais simbólica, o ex-presidente Lula, não demorou a acusar a prisão de Mantega como desumana, ao mesmo tempo em que apontou uma operação para minar o partido por conta da proximidade das eleições municipais em outubro.
"É importante lembrar que eles estão trabalhando contra o PT desde a eleição de 2006... depois, na eleição de 2010 com a Dilma. Na eleição de 2012, atravessamos a eleição com o julgamento daquilo que eles tratavam de mensalão e ganhamos as eleições em muitas cidades. E agora outra vez. Deveria se chamar operação boca de urna, porque está chegando perto das eleições outra vez, eles vêm para cima do PT", disse o ex-presidente em uma entrevista à Rádio Povo do Ceará.
"O que me preocupa nessa operação de hoje ... é a notícia de que... a mulher dele estava se preperando para fazer uma cirurgia... Eu acho que se isso é verdade, qualquer tese de humanitarismo foi jogada no lixo. O Guido é um homem que foi ministro da Fazenda, tem residência fixa, portanto as pessoas poderiam tratá-lo como todo ser humano precisa ser tratado", disse Lula antes do anúncio da revogação da prisão.
Na mesma linha, o presidente do PT, Rui Falcão, classificou a detenção do ex-ministro de "arbitrária, desumana e desnecessária", também recorrendo ao termo "boca de urna" para se referir à operação.
Sobre as acusações de que teriam ocorrido repasses de verbas para o PT, Falcão afirmou por nota que "o PT refuta as ilações apresentadas. Todas as operações financeiras do partido foram realizadas estritamente dentro dos parâmetros legais e posteriormente declaradas à Justiça Eleitoral."
A nova etapa da Lava Jato ganhou o nome Arquivo X, uma referência ao grupo de empresas do empresário Eike Batista, que tinha como marca a colocação do “X” nos nomes das suas companhias e foi um dos pivôs das investigações para esta fase.
Como parte das investigações, o Ministério Público Federal ouviu depoimento de Eike Batista, ex-presidente do Conselho de Administração da OSX (SA:OSXB3), que disse aos procuradores ter recebido pedido de um então ministro e presidente do Conselho de Administração da Petrobras para que fizesse pagamento de 5 milhões de reais no interesse do PT, segundo comunicado do MPF.
(Reportagem de Maria Carolina Marcello)