RIO DE JANEIRO (Reuters) - A ex-senadora Marina Silva, candidata derrotada na eleição presidencial de 2014, disse nesta quarta-feira que a declaração dada pela presidente Dilma Rousseff nesta semana de que não há corrupção em seu governo é uma clara manifestação da falta de vontade da petista de resolver este problema em seu mandato.
Marina avaliou, ainda, que o Brasil vive o momento político e institucional mais "dramático" de sua história e que, o que chamou de profunda crise de governança vivida por Dilma, tem provocado consequências nocivas ao país.
"O Brasil vive uma crise sem precedência grave na política... a crise política atrapalha nossa estabilidade econômica, nossa conquista social e cria uma fragilização da democracia", disse Marina a jornalistas em evento do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri) no Rio de Janeiro.
"Uma coisa fundamental para resolver os problemas é reconhecê-los e, quem não reconhece a natureza e a magnitude dos problemas (como corrupção) com certeza não se dispõe a resolvê-los. A corrupção é um problema grave que acontece no nosso país e vem se agravando nos últimos anos", avaliou ela.
Dilma disse durante viagem à Europa nesta semana que seu governo não está envolvido em casos de corrupção. A declaração foi dada em resposta ao presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que disse lamentar o envolvimento do governo brasileiro no que chamou de maior escândalo de corrupção do mundo, em referência às irregularidades investigadas pela operação Lava Jato.
Marina lembrou que tanto Cunha quanto o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), são investigados na Lava Jato e que o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto foi preso no âmbito da operação, assim como importantes figuras empresariais.
A Rede, partido de Marina que recentemente obteve registro na Justiça Eleitoral, entrou ao lado do PSOL com uma representação pedindo a cassação de Cunha no Conselho de Ética da Câmara, por ter em seu nome e de familiares supostas contas na Suíça, cuja existência foi negada por ele, mas apontada pelos ministérios públicos do Brasil e da Suíça.
"O Conselho de Ética precisa se reunir urgentemente para tomar essa decisão com base nos autos de tudo que já foi apurado... vi isso acontecer em períodos não tão longos com os senadores Antônio Carlos Magalhães e José Roberto Arruda. Temos uma história como lidar com isso", afirmou a ex-senadora
Marina também aproveitou para cobrar do governo e das lideranças políticas e institucionais uma solução para a crise política e para seus impactos nas áreas econômica e social.
"Nesse momento o que se deveria fazer seria olhar para o Brasil e ver que já perdemos 9 milhões de empregos, as pessoas estão endividadas e não conseguem pagar suas contas, as empresas fechando, o país não tem investimento e o Brasil perdeu o ganho da responsabilidade fiscal e cortando os programas sociais. Tem que olhar para isso e resolver o problema", disse.
(Reportagem de Rodrigo Viga Gaier)