Por Madeline Chambers e Emma Thomasson
BERLIM (Reuters) - A primeira-ministra da Alemanha, Angela Merkel, começou na segunda-feira a difícil tarefa de tentar formar um governo, depois de garantir um quarto mandato como chanceler, pedindo aos social-democratas, de centro-esquerda, que não fechem a porta para repetir sua "grande coalizão".
Prejudicado pela decisão tomada dois anos atrás de acolher um milhão de imigrantes na Alemanha, o bloco conservador de Merkel ficou com 33 por cento dos votos, uma redução de 8,5 pontos em relação à votação de 2013 e seu nível mais baixo desde 1949. Seus parceiros de coalizão, os social-democratas, também sofreram forte queda e disseram que irão para a oposição.
Muitos eleitores decidiram votar no partido anti-imigração Alternativa para a Alemanha (AfD), primeira legenda de extrema-direita a ingressar no Parlamento alemão em mais de meio século, ao conquistar 12,6 por cento dos votos. No entanto, o AfD mal teve tempo de saborear a conquista do terceiro lugar antes de se envolver em disputas internas.
O voto no AfD é visto por muitos alemães como uma rejeição do status quo semelhante ao dos votos pelo Brexit e para Donald Trump no ano passado. Mas o centro político da Alemanha se saiu melhor do que no Reino Unido e nos Estados Unidos, já que mais eleitores se beneficiaram da globalização e mais rejeitam o passado extremista do país.
O partido de Merkel ainda é o maior bloco parlamentar, e a líder mais poderosa da Europa procurou manter suas opções de coalizão abertas na segunda-feira, dizendo que começaria as conversações com os Democratas Livres (FDP) e os Verdes, bem como com o SPD. Ela afirmou que o país terá uma coalizão até o Natal.
O líder do SPD, Martin Schulz, disse mais cedo que seu partido não teve escolha que não ir para a oposição "para defender a democracia contra aqueles que a questionam e a atacam", depois de o partido registrar seu pior desempenho do pós-guerra, com 20,5 por cento dos votos.
"Ouvi as palavras do SPD, ainda assim devemos permanecer em contato", disse Merkel em entrevista coletiva. "Eu acho que todos os partidos têm a responsabilidade de garantir que haverá um governo estável."
Merkel deixou claro que pretende servir um novo mandato completo de quatro anos como chanceler. Mas sua próxima coligação pode ser a mais difícil de seus anos de governo, com seus únicos parceiros potenciais restantes, o FDP pró-mercado e os Verdes pró-regulação, em desacordo em questões que vão desde imigrantes a impostos, meio ambiente e Europa.
Os investidores ficaram apreensivos com a perspectiva de uma Merkel mais fraca no comando de uma coalizão potencialmente instável com o FDP e os Verdes.
O surgimento dos Verdes como peça-chave em qualquer coligação também pesou nos mercados. O partido fez campanha para proibir a venda de novos carros de motores de combustão a partir de 2030 e pede uma rápida eliminação das usinas de carvão.
"O resultado fraco pode transformar Angela Merkel em um pato manco muito mais rápido do que os observadores internacionais e os mercados financeiros pensam", disse Carsten Brzeski, economista da consultoria ING.
Muitos alemães ficaram alarmados com a ascensão de um partido que o ministro das Relações Exteriores comparou com os nazistas. Manifestantes atiraram pedras e garrafas contra a polícia durante a comemoração do AfD em Berlim na noite de domingo.
Mas apenas um dia depois das eleições, o AfD mostrou sinais de fissura, pois a co-líder Frauke Petry, um dos rostos mais proeminentes do partido, disse que não se sentaria no Parlamento com os membros do AfD. Não ficou imediatamente claro por que ela estava fazendo tal movimento.