SÃO PAULO (Reuters) - Milhares de manifestantes foram às ruas na manhã deste domingo em Brasília, no Rio de Janeiro e em diversas outras cidades do país, de forma pacífica, para protestar contra o governo e pedir o impeachment da presidente Dilma Rousseff, em um momento de polarização no país acirrada pelas denúncias contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Os manifestantes vestiam, em sua maioria, as cores verde e amarela e carregavam cartazes contra Dilma, contra a corrupção e em favor do juiz Sérgio Moro, que comanda as investigações da operação Lava Jato.
No Rio, a concentração foi na praia de Copacabana, após uma madrugada de chuva na cidade. "Estou aqui com minha mulher e meus filhos para mostrar que estamos indignados com o presente e precisamos fazer algo para o futuro dos nossos filhos e jovens", disse o comerciante Carlos Andrade.
Alguns artistas se juntaram aos manifestantes, incluindo a atriz Suzana Vieira. "Chega disso. Ninguém aguenta mais. Viva o Brasil e o Sérgio Moro", declarou ela.
Durante a manifestação no Rio, um avião com a faixa “Não vai ter golpe!”, assinada pela Frente Brasil Popular, que reúne movimentos sociais e sindicatos, circulou por Copacabana.
Em Brasília, havia um grande boneco de Lula vestido de presidiário na Esplanada dos Ministérios e manifestantes gritavam palavras de ordem contra o governo, sem relatos de confrontos. De acordo com a Polícia Militar, por volta das 12h cerca de 50 mil pessoas estavam nas ruas da capital federal.
"Hoje é uma nova chance que o povo dá para a democracia porque perdeu a fé na democracia com tanta robalheira", disse o estudante de Direito Elias Souza, de 22 anos.
TEMOR DE VIOLÊNCIA
Brasília, Rio, Belo Horizonte e Recife estão entre as primeiras cidades a realizar manifestações. Em São Paulo, local que reuniu o maior número de manifestantes em protestos pró-impeachment no ano passado, o ato deste domingo está marcado para começar às 15h na avenida Paulista.
Mesmo antes de o protesto começar na capital paulista, vários carros de som e manifestantes já se espalhavam ao longo da avenida, carregando cartazes e faixas contra a corrupção e o governo e bonecos de Lula e também da presidente Dilma, vestidos de presidiários.
"Os brasileiros estão cansados deste governo. O MBL defende um Estado menor, com menos impostos", disse um dos líderes do Movimento Brasil Livre (MBL) Fernando Holiday à Reuters.
"A presidente está sem base de apoio para governar, sem governabilidade alguma. Acredito que ela estará ainda mais enfraquecida após as manifestações deste domingo", completou.
No primeiro grande protesto deste ano contra Dilma, os organizadores da manifestação convocaram atos em centenas de cidades de todas as regiões do país, tendo como principal reivindicação a saída da presidente, que é alvo de um pedido de abertura de processo de impeachment no Congresso.
Há uma preocupação no Palácio do Planalto com possíveis confrontos entre grupos de manifestantes rivais, mesmo com o adiamento de atos pró-governo que estavam marcados também para este domingo. Mas até o momento não foram registrados confrontos.
Dilma, que descartou enfaticamente na sexta-feira a possibilidade de renunciar, fez um apelo pela pacificação. “A manifestação é um momento importante no país, de afirmação democrática. Por isso não deve ser manchada por nenhum ato de violência”, afirmou Dilma em entrevista coletiva.
Os protestos deste domingo ocorrem dias após o Ministério Público de São Paulo ter pedido a prisão preventiva do ex-presidente Lula no caso envolvendo um tríplex no Guarujá (SP), no qual é acusado de lavagem de dinheiro e falsidade ideológica, e também depois de o ex-presidente ter sido alvo de mandado de condução coercitiva da Polícia Federal no âmbito da operação Lava Jato.
As ações contra Lula deram novo fôlego ao pedido de abertura de processo de impeachment contra Dilma, assim como a delação premiada do senador Delcídio do Amaral (PT-MS) citando Lula e a presidente, que foi acusada pelo ex-líder do governo no Senado de tentar interferir na Lava Jato.
O próprio governo avaliou que o risco de aprovação de um processo de impeachment cresceu nas últimas três semanas, desde o vazamento de parte da delação de Delcídio, de acordo com uma fonte do Palácio do Planalto ouvida pela Reuters.
(Reportagem de Cesar Bianconi, em São Paulo; Pedro Fonseca e Rodrigo Viga Gaier, no Rio de Janeiro; Anthony Boadle e Alonso Soto, em Brasília; Texto de Tatiana Ramil; Edição de Raquel Stenzel)
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