SÃO PAULO (Reuters) - O candidato a vice-presidente na chapa de Jair Bolsonaro (PSL), o general da reserva Hamilton Mourão (PRTB), afirmou nesta segunda-feira que é preciso relevar o discurso do presidenciável sobre uma possível fraude na eleição e defendeu uma reforma na Constituição.
"Tem que relevar um homem que praticamente morreu, quase morreu, que passou por duas cirurgias graves. O cara está fragilizado, então vamos relevar o que ele disse. Minha posição é que o jogo é esse, nós vamos jogar e vencer no primeiro turno", disse Mourão a jornalistas em evento do Sindicato da Habitação '(Secovi), em São Paulo.
No domingo, Bolsonaro fez uma transmissão ao vivo do hospital onde está internado, após ser esfaqueado dia 6, e reforçou sua tese de uma possível fraude no pleito de outubro, afirmando que "não temos qualquer garantia nas eleições".
Esse tema tem sido recorrente nas declarações do presidenciável. Pouco antes do atentado ele voltara ao assunto, falando que em nenhum outro país do mundo a votação e a apuração é completamente eletrônica, o que seria um sinal claro da fragilidade do sistema adotado pelo Brasil.
Em discurso para uma plateia de empresários, Mourão defendeu as reformas tributária, da Previdência e da Constituição, após provocar polêmica, na semana passada, ao dizer que a Constituição não precisa ser feita por eleitos pelo povo.
"Outro dia eu externei minha opinião sobre a questão da Constituição e fui taxado de antidemocrático. Se eu fosse antidemocrático, eu não estaria participando da eleição, eu estaria com a minha 45, limpando ela bonitinha, e aguardando melhores dias. Não é isso que estou fazendo, obviamente", disse.
"Nossa Constituição é terrível, ela abarca do alfinete ao foguete. Uma Constituição tem que ser de princípios e valores... a nossa está totalmente desatualizada, precisamos de uma outra. Considero essa a mãe todas as reformas, teremos que lidar com isso em algum momento", completou.
O candidato a vice na chapa de Bolsonaro, que lidera as pesquisas de intenção de voto, reforçou ainda a ideia de privatizações, caso seja eleito. "Tem que privatizar o que deve ser privatizado... na área do petróleo, a distribuição e o refino podem e devem ser privatizados”, afirmou ele, que descartou tentar a participação em debates enquanto o cabeça de chapa segue hospitalizado.
"O candidato é o Jair Bolsonaro, eu sou o apêndice dele, apenas isso. Não é o caso, a não ser que ele tome essa decisão e que os outros candidatos também aceitem. Isso não é uma coisa unilateral", disse.
"ELEMENTOS DESAJUSTADOS"
Mourão destacou que o Brasil vive uma crise de valores e que um dos pontos centrais da campanha liderada por Bolsonaro é a defesa da família. Para o general da reserva, famílias desestruturadas levam ao surgimento de "elementos desajustados", que "tendem a ingressar em narco-quadrilhas".
"Família sempre foi o núcleo central. A partir do momento que a família é dissociada, surgem os problemas sociais que estamos vivendo e atacam eminentemente nas áreas carentes, onde não há pai nem avô, é mãe e avó. E por isso torna-se realmente uma fábrica de elementos desajustados e que tendem a ingressar em narco-quadrilhas que afetam nosso país", afirmou.
O candidato a vice-presidente defendeu o trabalho da polícia, dizendo que é preciso investir em tecnologia, e lamentou que ela seja duramente criticada quando age contra bandidos.
"Direitos humanos são para humanos direitos", disse.
"MULAMBADA"
Mourão disse também que a proposta da chapa liderada por Bolsonaro é fazer acordos bilaterais com países desenvolvidos, ao invés da realização de acordos com países do Hemisfério Sul.
"Partimos para aquela diplomacia que foi chamada de sul-sul, e aí nos ligamos com toda a mulambada, me perdoe o termo, existente do outro lado do oceano e do lado de cá que não resultaram em nada, só em dívidas, e estamos tomando calote", afirmou, referindo-se à política externa dos governos petistas.
"Vamos ter que ter novamente uma diplomacia que nos leve a acordos bilaterais, com aqueles grandes mercados."
Questionado depois sobre o termo 'mulambada', ele disse que era "apenas para o auditório ficar mais satisfeito".
(Reportagem de Tatiana Ramil)