Por Patrícia Duarte
SÃO PAULO (Reuters) - O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, pode deixar o cargo se o governo fizer forte mudança na política econômica, como está sendo sinalizado com a iminente ida do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a Esplanada dos Ministérios, afirmou nesta quarta-feira à Reuters uma importante fonte da equipe econômica.
"Ninguém deve ocupar um cargo de confiança se a política adotada não for a que acredita", afirmou a fonte, que pediu anonimato.
A nomeação de Lula como ministro está sendo vista como a última cartada que o governo tem para tentar salvar o mandato da presidente Dilma Rousseff, em meio à forte crise política. Lula tem deixado claro, no entanto, que também quer mudar a atual política econômica, para tentar fazer o país voltar a crescer.
Um dos caminhos apontados nesse sentido seria o uso das reservas internacionais. O ministro da Casa Civil, Jacques Wagner, já afirmou que o governo avalia usar parte das reservas para abater a dívida pública, enquanto o PT tem defendido o uso do colchão de liquidez também para investimentos.
O BC e o Ministério da Fazenda são totalmente contra o uso das reservas que não seja com fins de proteção cambial.
"Fica difícil (manter uma relação) quando não tem sentido dentro da concepção de ambos (a política econômica)", afirmou a fonte.
Não apenas Tombini, mas também a diretoria do BC está cansada com tanto vaivém na economia, sobretudo no campo fiscal, com as metas de superávit primário sendo constantemente mudadas e complicando a vida da autoridade monetária no combate à inflação, de acordo com a fonte.
Segundo da fonte, Tombini não usa seu posicionamento sobre a política econômica como uma condição para ficar no cargo, dando a entender que isso nem chegou a ser negociado com Dilma ou Lula até agora.
A eventual saída de Tombini do comando do BC também acarretaria em trocas de diretores da autarquia.
"As soluções que estão sendo colocadas (pelo governo) para a saída da crise não são muito consistentes", disse a fonte.