BRASÍLIA (Reuters) - A empresária Mônica Moura, mulher do marqueteiro João Santana, afirmou em delação premiada que a então presidente Dilma Rousseff informou ao casal por meio de um rascunho de e-mail que eles eram alvos de mandados de prisão na operação Lava Jato.
Mônica Moura contou aos procuradores que o casal acertou com Dilma a criação de um e-mail, cujos dois lados tinham a senha de acesso, para se comunicar por meio de metáforas.
A mulher de Santana relatou ter voltado de Nova York a Brasília em novembro de 2014, após receber um telefonema do então ministro da Comunicação Social de Dilma, Edinho Silva, que lhe falou que a ex-presidente queria falar com urgência com ela pessoalmente.
Segundo Mônica, Dilma disse estar preocupada que as investigações chegassem à conta da Suíça em nome do casal, por saber que eles haviam recebido depósitos da Odebrecht para honrar pagamentos da campanha à reeleição.
"Precisamos manter contato frequente de uma forma segura para que eu lhe avise sobre o andamento da operação, estou sendo informada de tudo frequentemente pelo José Eduardo Cardozo (então ministro da Justiça)", disse Dilma, conforme relato de Mônica a procuradores.
A mulher de Santana contou ter criado, no próprio computador da biblioteca do Palácio da Alvorada, um e-mail, com nome e dados fictícios para se comunicarem. Mônica, Dilma e o assessor dela, Giles Azevedo, sabiam dessas tratativas.
Ficou combinado, do encontro, que eles conversariam por esse e-mail, o que, segundo Mônica, ocorreu.
A mulher de Santana disse que a metodologia para se falarem foi a seguinte: sempre que Dilma sabia de informações da Lava Jato por Cardozo, Giles Azevedo mandava uma mensagem de celular para ela com assuntos irrelevantes, como "veja aquele filme", "gostei do vinho indicado".
Era esse, disse Mônica, o sinal para ela checar o e-mail. As conversas entre as partes, afirmou, eram feitas no rascunho. Às vésperas do Dia do Trabalho de 2015, um segundo e-mail foi criado, por sugestão da própria Dilma, desta vez em um notebook no Alvorada, segundo a delatora.
Mônica disse ter recebido uma série de informes por meio desse inusitado método quando trabalhava na República Dominicana, país em que o casal fez a campanha presidencial de Danilo Medina.
Em nota de sua assessoria de imprensa, divulgada nesta quinta-feira, ex-presidente reiterou o que já havia dito sobre a delação do casal de marqueteiros.
"João Santana e Mônica Moura prestaram falso testemunho e faltaram com a verdade em seus depoimentos, provavelmente pressionados pelas ameaças dos investigadores", diz a nota. "Apesar de tudo, a presidente eleita acredita na Justiça e sabe que a verdade virá à tona e será restabelecida."
O ex-ministro Cardozo disse em janeiro, à Folha de S.Paulo, que nem ele nem a então presidente tinham informações privilegiadas da Lava Jato. Não foi possível contatar o ex-assessor de Dilma Giles Azevedo.
(Reportagem de Ricardo Brito)