Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - O “mau humor” das ruas, refletido nas manifestações do último domingo, são um reflexo do mau desempenho econômico do país e não há como melhorar a avaliação do governo sem avanços na economia, mas não há uma solução “bombástica” para isso, afirmou nesta segunda-feira o ministro da Casa Civil, Jaques Wagner.
“O caminho é o mesmo que a gente vinha trabalhando para recuperar o crescimento, não muda a agenda do governo ter mais uma manifestação", disse Wagner , em entrevista a alguns veículos de imprensa. "Não estou desprezando, foi grande, foi significativa, (mas) não tem outro caminho, o que a gente vai fazer diferente disso?”
“O bom ou mau humor da rua tem a ver com o bom ou mau desempenho da economia. É disso que se trata, a outra parte é a política. Mas o bom humor das pessoas tem a ver com seu bem-estar. O único remédio para avaliação ruim é melhorar a vida das pessoas”.
Wagner negou, no entanto, que o governo tenha “um coelho na cartola” ou uma resposta rápida. “Não conheço nenhuma resposta rápida para economia sem ser uma aventura”, disse.
As medidas que devem ser adotadas, diz, são aquelas que o governo já planeja. Até o dia 30 deste mês deve ser enviado ao Congresso o projeto de alongamento da dívida dos Estados e das grandes capitais, para permitir aos governos estaduais espaço para investimento.
Wagner defende também que é preciso encontrar recursos para retomar obras do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) que já tenham sido iniciadas.
“Para reanimar a economia tem que botar obras públicas para rodar”, disse, acrescentando que assim se gera empregos e põe a economia para funcionar.
De acordo com o ministro, o governo reconhece que as manifestações foram importantes, mas questionou que também nunca houve uma “tão produzida”.
O ministro referia-se ao fato de o governo de São Paulo ter liberado as catracas do metrô, de empresas e federações de comércio e de indústria terem feito convocações para o ato e um jogo de futebol ter tido o horário alterado. “Não estou desmerecendo, mas não me fale que foi só espontânea. Teve um chamamento forte.”
Wagner, no entanto, lembrou que políticos da oposição também não encontraram espaço nos protestos.
“Aécio achou que ia ser o rei da festa. O rei da festa foi o Moro", disse citando o senador Aécio Neves, presidente nacional do PSDB, maior partido oposicionista, e o juiz Sérgio Moro, da operação Lava Jato.
“O plano traçado por Moro está quase chegando no seu objetivo, que é a criminalização da política. Não exatamente um objetivo, mas uma consequência”, afirmou, ressaltando sua preocupação de que o país esteja caminhando para outro “salvador da pátria”.
IMPEACHMENT
O temor de que, depois da manifestação, o discurso do impeachment tenha ganho fôlego no Congresso é real no governo e foi discutido na reunião de coordenação política desta manhã, como confirmou uma fonte presente ao encontro.
Wagner disse que o governo vai responder trabalhando para barrar o processo na Câmara e a pressa do presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), com o impeachment é para seus problemas com a Justiça “saírem de cena”.
“Não vai adiantar nada. O processo no Conselho de Ética (contra Cunha) vai continuar, no Supremo Tribunal Federal vai continuar”.
O ministro defende que está havendo uma “banalização de coisas que deveriam ser nobres”, como um processo de impeachment.
“Impeachment não é remédio para crise econômica nem para impopularidade”, disse, dizendo que a oposição paralisa o país e tem apenas uma agenda desde janeiro de 2015.
LULA
Wagner afirmou que a ida de Luiz Inácio Lula da Silva para o governo depende apenas do ex-presidente.
“Todo mundo quer que ele venha. Depende da cabeça dele”, disse. O cargo não estaria definido mas, informou Wagner que Lula voltaria a Brasília para “cuidar do que ele sabe fazer, que é a política”.
A decisão, no entanto, está em suspenso. Lula se preocupa com a possibilidade de passar a ter foro privilegiado mas sua família não, relatou Wagner. Mas ele negou que exista a ideia de que o ex-presidente esteja escapando da Justiça ao assumir um cargo no governo.
“Estaria tirando ele (Lula) da Justiça? STF não é Justiça?"