Por Maria Carolina Marcello
BRASÍLIA (Reuters) - O governo conseguiu, ainda que sob protestos da oposição, impor um dia de votações no Congresso nesta terça-feira, de forma a passar um ar de “normalidade” no Legislativo, após a turbulência causada pela divulgação de delações e áudio implicando o presidente Michel Temer e importantes lideranças políticas.
Desde que a bomba política explodiu, na última quarta-feira, as oposições na Câmara e no Senado prometeram obstrução, sob o argumento que não seria possível fechar os olhos diante da grave crise. Até mesmo aliados do governo admitiam que o momento não seria ideal para votações, principalmente as polêmicas, devido ao risco de eventuais derrotas piorarem ainda mais o quadro.
Mas nesta semana os governistas decidiram realizar um esforço para votar matérias e desse modo procurar demonstrar um desejado ambiente de normalidade no Congresso.
Já na segunda-feira, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que até então relutava em definir uma data de votação em plenário da reforma da Previdência, deu sua primeira entrevista após as denúncias e aproveitou para anunciar o calendário: entre os dias 5 e 12 de junho.
Do outro lado, no tapete azul, o presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), informou que colocaria medidas provisórias em votação, como de fato ocorreu.
No início da noite, o Senado aprovou três MPs: a 758, que altera limites do Parque Nacional do Jamanxim para a passagem da estrada de ferro EF-170; a 757, que institui taxas em favor da Zona Franca de Manaus; e a 756, que altera os limites do Parque Nacional do Rio Novo e da Floresta Nacional (Flona) do Jamanxim, desmembrando parte de sua área para a criação da Área de Proteção Ambiental (APA) do Jamanxim, no Pará.
A oposição baixou a guarda e topou a votação. Mas pouco antes, na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), utilizou todos os seus recursos para impedir a leitura do parecer da reforma trabalhista, requisito necessário para que possa ser votado. Parlamentares contrários ao governo tanto fizeram que impediram a leitura formal do relatório.
A sessão foi suspensa após tumulto e bate-boca entre senadores do governo e da oposição, mas o texto foi dado como lido pelo relator, senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES).
Na Câmara, a oposição dava continuidade a uma dura obstrução, com a apresentação consecutiva de uma série de requerimentos, mas o governo conseguia votos em plenário para vencer a obstrução.
No mérito, os oposicionistas deveriam votar a favor da MP provisória em pauta: a matéria permite o saque de contas inativas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).