Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - Um dos principais articuladores das negociações para acomodar o PMDB no governo, o ministro da Secretaria de Aviação Civil, Eliseu Padilha, afirmou que seu partido agora terá que corresponder ao que recebeu com a reforma ministerial anunciada nesta sexta-feira e apoiar o governo.
"A presidente fez todos os gestos que foram solicitados a ela pela bancada da Câmara, que é onde nós tínhamos a necessidade dessa atenção maior. A presidente fez a sua parte muito bem, o Ministério da Saúde é o maior orçamento da República, o da Ciência e Tecnologia é um senhor ministério", disse Padilha.
"A presidente fez o gesto maior que era possível fazer. Eu penso que a bancada agora deverá fazer o esforço maior para corresponder", afirmou. "Quando se tem um governo de coalizão se pressupõe que as partes estejam trabalhando com o mesmo objetivo", acrescentou.
Segundo Padilha, a bancada do PMDB normalmente tem "suas idiossincrasias", e será preciso "muita conversa". O ministro acredita, no entanto, que é preciso fortalecer a ideia de uma união nacional do partido, e não o fatiamento entre bancadas da Câmara e Senado.
Sobre a defesa que alguns grupos fazem de rompimento com o governo – inclusive o presidente da Câmara, Eduardo Cunha – o ministro afirma que é uma minoria, e na democracia interna do partido "a minoria ainda segue a maioria".
Em uma mostra da mudança de postura que já se inicia na Câmara, o líder do PMDB na Casa, Leonardo Picciani (RJ), disse nesta sexta-feira ter convicção de que os vetos da presidente Dilma Rousseff, que serão analisados pelo Congresso Nacional em sessão na próxima semana, vão ser mantidos pelos parlamentares.
Entre os vetos a serem analisados está um que trata do reajuste de até 78,6 por cento para servidores do Judiciário. Se esse veto for eventualmente derrubado, o governo estima um impacto de 36 bilhões de reais na contas públicas até 2019.
Picciani avaliou ainda que seu partido "sai extremamente contemplado dessa reforma".
CPMF DUPLA
Outro sinal foi a ideia defendida pelo novo ministro da Saúde, Marcelo Castro (PMDB-PI), de dobrar a arrecadação da CPMF, cuja criação o PMDB criticou desde o início. Não satisfeito com a atual alíquota, Castro já propôs ao governo fazer uma bitributação da contribuição, cobrando 0,20 por cento de quem faz o pagamento e outros 0,20 de quem recebe o pagamento.
"Se João paga mil reais para Pedro, saem 1.002,00 reais da conta de João e entram 998 reais para Pedro. A diferença vai para o governo", defendeu o novo ministro, alegando que todos no governo gostaram da ideia porque "não muda a alíquota".
A metade dos recursos fica com a União e a outra metade seria dividida com Estados e municípios.
Questionado se seu partido concordaria com essa mudança, já que desde o início o PMDB se colocava contra a criação da CPMF, Castro disse: "Se houver uma mobilização social, o Congresso aprova, porque o Congresso é sensível à mobilização social."
(Com reportagem de Leonardo Goy)