Por Sam Edwards e Raquel Castillo
BARCELONA/MADRI (Reuters) - Separatistas catalães estavam preparando nesta sexta-feira uma declaração unilateral de independência da Espanha que poderia ser adotada na semana que vem, desafiando a ordem de um tribunal e a pressão econômica crescente de Madri.
Depois que o Tribunal Constitucional espanhol suspendeu uma sessão do Parlamento catalão marcada para segunda-feira, na qual se esperava uma aprovação de uma declaração de independência, o Parlamento disse que o líder secessionista Carles Puigdemont pediu para falar à assembleia na terça-feira.
Madri se desculpou pela primeira vez nesta sexta-feira pela violência empregada pela polícia na tentativa de impedir a realização de um referendo no final de semana que declarou ilegal. A repressão elevou a temperatura de um confronto que se transformou na pior crise espanhola em décadas.
Um parlamentar catalão citado pelo jornal El Mundo disse que os partidos separatistas do Parlamento catalão estão debatendo uma declaração de independência a ser submetida à assembleia na terça-feira.
"Estamos conversando sobre um texto, com papel e caneta, para a declaração que queremos que o Parlamento regional aceite na terça-feira", informou Carles Riera, parlamentar do partido pró-independência Candidatura de Unidade Popular (CUP).
"Ninguém apresentou nenhuma hipótese de atraso, ambiguidade ou confusão. Não estamos trabalhando com esta hipótese", disse.
A legislatura da Catalunha anunciou que Puigdemont se pronunciará em uma sessão plenária às 18h locais de terça-feira que vem.
As apostas são altas para a quarta maior economia da zona do euro. A Catalunha representa uma grande fatia de seu recolhimento de impostos e abriga multinacionais como a montadora Volkswagen e a farmacêutica AstraZeneca.
Mais cedo o chefe de política externa da Catalunha, Raul Romeva, disse à rádio BBC que o Parlamento regional pretende tomar uma decisão sobre a separação, sem especificar quando.
O governo Espanha aumentou a pressão econômica sobre o governo catalão nesta sexta-feira aprovando uma lei que torna mais fácil para as empresas transferirem suas operações ao redor do país, o que pode representar um golpe nas finanças da região.
Várias das maiores companhias locais, como o Sabadell, quinto maior banco de empréstimos espanhol, já anunciaram planos de mudar seus escritórios registrados para outras partes do país.
A Espanha fez um gesto conciliatório ao pedir desculpas pela violência da repressão policial durante o referendo de independência da Catalunha, quando a polícia espanhola usou cassetetes e balas de borracha para impedir as pessoas de votarem no referendo de domingo, que Madri proibiu alegando ser inconstitucional.
As cenas causaram repúdio mundial e insuflaram o sentimento separatista, mas não bastaram para evitar o que o governo catalão descreveu como uma maioria esmagadora de votos 'sim'.
"Quando vejo estas imagens, e ainda mais quando conheço pessoas que foram golpeadas, empurradas e até uma pessoa que foi hospitalizada, só posso lamentar e me desculpar em nome das autoridades que intervieram", disse Enric Millo, representante espanhol no nordeste da região, em uma entrevista à televisão.
Em meio aos clamores de muitos grupos, como o time de futebol Barcelona, por uma solução mediada para o impasse, a emissora estatal suíça RTS noticiou que o país neutro está disposto a proporcionar uma plataforma para o diálogo entre o governo espanhol e a Catalunha.
Os resultados finais no proibido referendo catalão sobre a independência em relação à Espanha mostraram que o “sim” conquistou 90,18 por cento dos votos, contra 7,83 por cento do “não”, informou o governo regional da Catalunha.
O governo catalão disse que a participação de eleitores foi de quase 2,3 milhões de pessoas, ou cerca de 43 por cento do eleitorado registrado.