(Reuters) - A Polícia Federal e o Ministério Público Federal deflagraram nesta quinta-feira operação contra esquema suspeito de lavagem de dinheiro envolvendo verbas públicas federais, que tem entre os acusados o dono da empreiteira Delta, Fernando Cavendish, e o empresário Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira.
A denúncia apresentada pelo MPF contra 23 pessoas acusa a Delta de ter lavado mais de 370 milhões de reais de um montante de 11 bilhões de reais de faturamento da empreiteira oriundos de verbas públicas entre 2007 e 2012, por meio de empresas fantasmas que faziam parte do esquema.
"Foram verificados, até o momento, fortes indícios de transferências milionárias de recursos de referida empresa de engenharia para sociedades de fachada, possivelmente desviados de obras públicas. Para comprovação de tais desvios, está sendo realizada perícia contábil-financeira na sociedade investigada", disse a Polícia Federal em comunicado.
Segundo o MPF, a organização criminosa envolvendo a Delta também serviu ao esquema de corrupção na Petrobras (SA:PETR4) investigado pela operação Lava Jato, com o envolvimento de empreiteiras, partidos e políticos.
"Rastreando os pagamentos feitos pela Delta às empresas de fachada, verificou-se um aumento significativo dos valores das transferências em anos de eleições", afirmou o Ministério Público.
Policiais federais estiveram pela manhã no prédio de luxo no Rio de Janeiro onde o dono da Delta mora, mas não encontraram Cavendish, que estaria no exterior, segundo reportagens. Já Carlinhos Cachoeira, que já havia sido preso acusado de comandar um esquema de exploração ilegal de caça-níqueis em Goiás, foi detido em sua casa em Goiânia, de acordo com a mídia.
A empreiteira Delta, que participou de diversas obras no âmbito do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), foi um dos principais alvos de investigação de uma CPI realizada em 2012 para apurar os laços de Carlinhos Cachoeira com empresas e políticos.
A construtora também participou de diversas obras no Rio de Janeiro durante a gestão do ex-governador Sérgio Cabral (PMDB), de 2007 a 2014, incluindo a reforma bilionária do estádio do Maracanã para a Copa do Mundo de 2014.
A Delta disse, por meio de sua assessoria de imprensa, que não vai se manifestar sobre a operação da PF e do MPF.
Em nota, os advogados de Cavendish criticaram a decretação de prisão do empresário, classificando-a de "insuportável ilegalidade". Afirmaram, ainda, que tomarão todas as providências judiciais para revertê-la.
(Por Pedro Fonseca, no Rio de Janeiro; Edição de Alexandre Caverni)