Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - A divulgação do áudio da ligação entre a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pegou de surpresa e deixou atônito o Palácio do Planalto, levando a presidente a chamar seus ministros mais próximos e sua assessoria jurídica ao Palácio do Alvorada para avaliar a situação.
A nomeação do ex-presidente para a Casa Civil, acertada em duas longas reuniões na terça e na quarta-feira, era tratado no Palácio do Planalto como a possibilidade de uma grande virada no governo, apesar de enfraquecer a presidente, comentaram à Reuters duas fontes palacianas.
A avaliação era de que haveria um desgaste político, mas que seria superado pela atuação de Lula no governo. Agora, o Planalto ainda está tentando avaliar o estrago que a divulgação da gravação irá causar na ação política.
Logo depois de Lula aceitar assumir a Casa Civil, em reunião com Dilma no Alvorada, a presidente reuniu ministros petistas no Palácio do Planalto e o clima era de alívio, disse uma das fontes. Após a divulgação de nota confirmando a nomeação, a presidente decidiu dar uma entrevista para refutar boatos de que haveria uma mudança da política econômica, com afrouxamento fiscal, e negar que uma das razões para a nomeação de Lula seria dar foro privilegiado ao ex-presidente.
“Por trás de uma afirmação dessa, tem, sobretudo, uma suspeita do Supremo Tribunal Federal. Ou seja, o Supremo Tribunal Federal não é uma Justiça que pode punir, que pode investigar, mandar investigar e absolver? É. É uma Justiça até, é a maior, é a Suprema Corte do país. Então, por trás dessa afirmação de que seria 'se esconder', estaria uma desconfiança da Suprema Corte do País? É isso que as oposições querem colocar? Por quê?”, disse a presidente a jornalistas.
“A troco de que eu vou achar que a investigação do juiz Sérgio Moro é melhor do que a investigação do Supremo? Isso é uma inversão de hierarquia, me desculpa, eu não posso acrescentar mais nada a uma resposta dessas.”
A gravação foi feita nesta quarta-feira, pouco depois das 13h. No início da noite saiu uma edição extra do Diário Oficial da União com a nomeação de Lula.
O Planalto questiona a legalidade da gravação da conversa da presidente, que tem foro privilegiado, mesmo que tenha sido feita através de um grampo contra Lula. A primeira medida da presidente foi chamar ao Alvorada o ministro da Advocacia-Geral da União, José Eduardo Cardozo, e Jorge Messias, assessor jurídico da Casa Civil – o “Bessias” citado por Dilma na gravação.
Eram 20h23 quando o Palácio do Planalto divulgou uma nota oficial afirmando que Dilma enviou o termo de posse para Lula assinar porque não estava prevista a presença dele na posse, nesta quinta-feira. Contudo, a cerimônia estava marcada inicialmente para a próxima terça-feira, dia 22 – o presidente do PT, Rui Falcão, havia publicado a data no Twitter logo depois de encerrada a reunião entre Lula e Dilma no Alvorada, e fontes do Planalto já falavam nesta data. Estava previsto ainda que o ex-presidente voltasse a Brasília na segunda-feira.
Enquanto servidores circulavam atônitos pelos corredores do Planalto, milhares de pessoas se concentravam em frente do prédio, fechando a Esplanada dos Ministérios.
A manifestação, que havia sido chamada pelo Movimento Brasil Livre para o final da tarde em protesto pela nomeação de Lula para a Casa Civil, cresceu exponencialmente depois da divulgação dos áudios. A segurança do Palácio do Planalto fechou as cortinas do quarto andar e proibiu as pessoas de “espiarem a manifestação”. O Salão Nobre, no segundo andar, foi fechado para passagem.
Nos Palácios do Alvorada e do Jaburu – residência da vice-Presidência – o acesso foi fechado, inclusive com reforço de veículos blindados da Polícia Militar.
(Edição de Raquel Stenzel)