Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - O Palácio do Planalto acabou por criar mais uma crise com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), ao divulgar que um encontro fora da agenda com o presidente Michel Temer teria sido para tratar do rito da votação da segunda denúncia, na próxima semana, sendo desmentido em seguida por uma nota de Maia e recuando da versão.
O presidente da Câmara esteve no Planalto às 16h30, a convite de Temer. Em seguida, consultados pela Reuters sobre o tema do encontro, auxiliares do presidente informaram por mensagem que seria o "rito da votação da próxima semana".
Irritado com a versão do Planalto, Maia divulgou em seguida uma dura "nota de esclarecimento", classificando a versão de falsa. Maia afirmou que havia sido chamado para "esclarecer episódios recentes que deram margem a incompreensões".
"Não havia sentido algum tratar de rito processual de votação de um Poder da República com o presidente de outro Poder, muito menos quando é um deles que está sendo processado e julgado junto com seus ministros", diz a nota do presidente da Câmara. "Esta nota de esclarecimento se faz necessária porque o autor da falsa versão disseminada pelo Palácio do Planalto precisa repor a verdade dos fatos."
Obrigado a recuar da versão, o Planalto procurou os jornalistas que haviam perguntado sobre a reunião para retificar a informação. Em e-mail enviado à Reuters, a Secretaria de Imprensa da Presidência informa que "O Palácio do Planalto confirma que o presidente da Câmara dos Deputados atendeu a convite do Presidente da República, que o chamou ao Palácio para esclarecer episódios recentes que deram margem a incompreensões".
A relação entre Maia e Temer vem se deteriorando nos últimos meses. Em pelo menos duas ocasiões, o presidente da Câmara mostrou irritação profunda com o Planalto e o PMDB. Um dos problemas foi o assédio do partido do presidente a parlamentares do PSB que estavam negociando uma mudança para o DEM.
No último final de semana, a crise aumentou com a divulgação dos vídeos da delação premiada do empresário Lucio Funaro, publicadas no site da Câmara. O advogado de Temer, Eduardo Carnelós, antes de saber da publicação dos vídeos, classificou o fato de "vazamento criminoso" e foi chamado de incompetente por Maia.
Depois de se irritar com a publicação, Temer determinou que se colocasse panos quentes na crise e mandou o ministro da Secretaria de Governo, Antonio Imbassahy, conversar com o presidente da Câmara. A conversa desta quarta-feira, pessoalmente, foi para tentar encerrar o assunto, mas terminou por criar mais uma crise.
De acordo com uma fonte parlamentar, Maia vem tentando se distanciar do governo e fazer um contraponto a Temer, que tem apenas 3 por cento de aprovação popular, e tem subido o tom nas respostas ao Planalto. Já entre os auxiliares do presidente, há uma desconfiança em relação ao presidente da Câmara, mas a ordem é tentar abafar novas crises.