RIO DE JANEIRO (Reuters) - A Polícia Civil do Paraná deflagrou nesta terça-feira operação para prender gerentes e assessores comerciais das distribuidoras de combustíveis BR, Raízen e Ipiranga, as três maiores do país, por suspeita de formarem uma quadrilha para controlar o preço final dos combustíveis nas bombas dos postos, informou a polícia paranaense.
Foram expedidos pela Justiça 8 mandados de prisão e 12 de busca e apreensão, tendo entre os alvos as sedes administrativas das distribuidoras suspeitas de envolvimento na capital paranaense, acrescentou a polícia.
"A suspeita é que estas distribuidoras controlam de forma indevida e criminosa o preço final dos combustíveis nas bombas dos postos de gasolina com bandeira das distribuidoras, restringindo assim o mercado...", disse a Polícia Civil em nota oficial.
As três distribuidoras, que detêm juntas quase dois terços do mercado de diesel do Brasil e mais de 60 por cento do de gasolina, impediriam a "livre concorrência" no Paraná, segundo os investigadores.
A BR Distribuidora (SA:BRDT3) é controlada pela Petrobras (SA:PETR4), a Raízen é uma joint venture entre Cosan (SA:CSAN3) e Shell, enquanto a Ipiranga pertence ao grupo Ultrapar (SA:UGPA3). As ações das empresas listadas na B3 operavam em queda acentuada nesta terça-feira.
A operação foi deflagrada após mais de um ano de investigação da Divisão de Combate à Corrupção da Polícia Civil e da Promotoria de Justiça de Defesa do Consumidor de Curitiba, um órgão do Ministério Público do Paraná.
Segundo os dados mais recentes da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), BR, Raízen e Ipiranga somaram juntas 72 por cento do mercado brasileiro de distribuição de diesel --combustível mais consumido do país-- e 63 por cento do mercado de gasolina no primeiro trimestre.
A BR, maior distribuidora do país, representou 31,07 por cento do mercado de venda de diesel no Brasil e 23,63 por cento do mercado de gasolina no período. Já a Raízen ficou com 21,1 por cento do mercado de diesel e 20,44 por cento do mercado de gasolina, enquanto a Ipiranga deteve 19,75 por cento mercado de diesel e 19,07 por cento de gasolina.
Procurada pela Reuters, a Raízen disse que acompanha o desdobramento da operação policial e está à disposição das autoridades responsáveis para esclarecimentos, e acrescentou que os preços nos postos de combustíveis são definidos exclusivamente pelo revendedor, sem qualquer ingerência.
"A empresa opera em total conformidade com a legislação vigente e atua sempre de forma competitiva, em respeito ao consumidor e a favor da livre concorrência", afirmou.
A BR Distribuidora disse em nota que pauta sua atuação pelas "melhores práticas comerciais, concorrenciais, a ética e o respeito ao consumidor", e exige o mesmo comportamento de seus parceiros e força de trabalho.
A Ipiranga não respondeu de imediato a um pedido de comentário.
As ações da Ultrapar, Cosan e BR caíam fortemente na bolsa de São Paulo na manhã desta terça-feira após a deflagração da operação pela Polícia Civil do Paraná.
Às 11h30, os papéis da Ultrapar, dona da Ipiranga, recuavam 4,27 por cento, e as ações da Cosan perdiam 3,35 por cento, entre as maiores quedas do Ibovespa, que caía 1,3 por cento. A BR, que não está no índice, perdia 4,7 por cento.
Os suspeitos responderão pelos crimes de abuso de poder econômico e organização criminosa, com penas que variam de 2 a 13 anos de prisão, acrescentou a Polícia Civil.
(Por Pedro Fonseca; Reportagem adicional de Marta Nogueira)