HAVANA (Reuters) - O presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel, disse na primeira entrevista desde que tomou posse, em abril, que seu governo não pode conversar com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, enquanto o governo norte-americano mantiver atitude "anormal" em relação à ilha comunista.
"Queremos dialogar, mas precisa ser como iguais", disse Díaz-Canel na entrevista abrangente à rede de televisão venezuelana Telesur transmitida na noite de domingo, ecoando seu antecessor e mentor, Raúl Castro.
"Não aceitamos imposições e não estamos dispostos a fazer concessões", disse.
As relações Cuba-EUA se deterioraram rapidamente desde que Trump tomou posse e começou a revogar em parte as medidas históricas de reaproximação adotadas por seu antecessor, Barack Obama, depois de décadas de hostilidade.
Elas também pioraram devido ao que Washington disse ser uma série de ataques à saúde de diplomatas radicados em Havana. Cuba nega qualquer envolvimento.
"Cuba não ataca, Cuba defende, Cuba compartilha", disse Díaz-Canel, que se referiu muitas vezes a Fidel Castro, líder falecido da revolução de 1959, e ao seu irmão caçula, Raúl, durante a entrevista.
Raúl, de 87 anos, continua à frente do Partido Comunista até 2021 e é "como um pai" para Díaz-Canel, segundo o presidente de 58 anos, que contou que os dois conversam quase todos os dias.
Díaz-Canel elogiou a aliança cubana de longa data com a Venezuela, e também disse que louvou a vitória presidencial do líder de esquerda Andrés Manuel López Obrador no México, que foi "animadora" para a América Latina.
Quanto ao projeto de uma nova Constituição sendo debatido em reuniões comunitárias em toda Cuba, Díaz-Canel disse que a retirada da palavra "comunismo" não significa que o país está renunciando a esta aspiração.
O documento, que deve substituir uma Constituição da época da Guerra Fria, ainda menciona o socialismo, que implica o comunismo, disse ele.
Díaz-Canel ainda disse apoiar a proposta de mudança constitucional para permitir o casamento de pessoas do mesmo sexo.
"Defendo que não exista nenhum tipo de discriminação", disse, embora caiba ao povo cubano decidir se inclui essa alteração.
(Por Sarah Marsh e Marc Frank)