Por Ingrid Melander
PARIS (Reuters) - O presidente da França, François Hollande, disse nesta quinta-feira que não vai concorrer ao segundo mandato nas eleições presidenciais de 2017, uma decisão sem precedentes que abre o caminho para outros candidatos de esquerda.
É a primeira vez em décadas que o presidente francês em exercício não busca a reeleição. Hollande é o presidente mais impopular já registrado.
"Eu estou ciente hoje do risco envolvido em tomar um caminho que não vai atrair apoio suficiente. Assim, eu decidi não ser candidato nas eleições presidenciais”, disse Hollande, com uma expressão sisuda, em pronunciamento televisionado.
Todas as pesquisas recentes preveem que nem Hollande nem um outro candidato socialista passariam pelo primeiro turno eleitoral. Elas preveem uma disputa no segundo turno entre o candidato de centro-direita François Fillon e a líder da Frente Nacional, organização de extrema-direita, Marine Le Pen.
A esquerda se encontra profundamente dividida. Outros socialistas, incluindo o ex-ministro da Economia Arnaud Montebourg, disseram que participarão das primárias do partido em janeiro.
Emmanuel Macron, outro ex-ministro de Hollande, e Jean-Luc Melenchon, de esquerda, afirmaram que vão concorrer nas eleições presidenciais sem participarem das primárias.
Há tensões entre Hollande e o seu primeiro-ministro, Manuel Valls, que havia levantado a possibilidade numa entrevista no fim de semana de concorrer nas primárias contra o chefe.
Hollande venceu o conservador e então presidente, Nicolas Sarkozy, nas eleições de maio de 2012, depois de uma campanha tradicional de esquerda, na qual criticou os grandes empresários e prometeu aumentar os impostos dos que ganhavam mais.
A sua popularidade logo começou a cair com o que foi percebido como falta de liderança e reviravoltas em temas chaves, em particular na reforma fiscal, que decepcionou muitos na esquerda. A sua popularidade tem sido minada pelo alto desemprego e o crescimento econômico fraco.
Os ativistas de base se distanciaram ainda mais por conta do giro favorável aos empresários em 2014, da indecisão sobre reforma na segurança e de leis trabalhistas que colocaram milhares de manifestantes nas ruas neste ano.
A imagem de Hollande também foi atingida por uma série de equívocos em comunicação, incluindo o fim público da sua relação com Valérie Trieweiler e fotos dele indo visitar a nova namorada numa moto.
A gota d’água para alguns dos seus apoiadores mais próximos foi a publicação de um livro por dois jornalistas do Le Monde em outubro. O presidente, em entrevista aos jornalistas, criticou de juízes a jogadores de futebol, além de vários aliados, em comentários que foram chamados de indiscretos e não apropriados.
Ele também revelou que os serviços secretos franceses realizaram quatro operações de assassinato sob as suas ordens.
(Reportagem de Ingrid Melander, Michel Rose, Andrew Callus)