SÃO PAULO (Reuters) - Procuradores da força-tarefa da Lava Jato comemoram nesta sexta-feira o terceiro aniversário da operação com um balanço das investigações e aproveitaram para alertar que medidas em discussão no Congresso Nacional podem fazer com que a Lava Jato caia por terra.
Os procuradores fizeram um balanço dos três anos da operação que prendeu executivos de grandes empreiteiras e abalou a classe política em entrevista em Curitiba, e se comprometeram a trabalhar não só para nacionalizar, mas também para internacionalizar as investigações.
De acordo com a força-tarefa, nos três anos de Lava Jato já foram firmados mais de 180 acordos de cooperação internacional com 43 países, que resultaram na repatriação de mais de 594 milhões de reais em recursos ao Brasil.
A força-tarefa, no entanto, voltou a mostrar preocupação com medidas que vêm sendo discutidas no Congresso Nacional e que, de acordo com os procuradores, podem comprometer as investigações da Lava Jato, que atingiram políticos com e sem mandato de vários partidos.
"Basta uma noite no Congresso Nacional e toda a investigação pode cair por terra", disse o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, um dos principais nomes da força-tarefa.
"Temos medidas inúmeras no Congresso Nacional tentando restringir e não alavancar investigações criminais. Nós realmente chegamos a um momento em que temos boa parte do Executivo e do Legislativo contra as investigações", afirmou.
Entre as medidas que preocupam os investigadores está a possibilidade de anistia ao caixa dois em doações eleitorais e propostas que tratam do abuso de autoridade, que eles afirmam visar intimidar a atuação dos procuradores.
Lima disse que a força-tarefa se compromete a manter as investigações e intensificar sua internacionalização, em um momento em que vários países da América Latina também apontam irregularidades em contratos públicos com empreiteiras, especialmente após o acordo de delação premiada com a Odebrecht.
Ele também pediu vigilância em relação a medidas legislativas que possam impactar nos trabalhos da Lava Jato
"Temos que manter a atenção e é isso que nós nos comprometemos. Nos comprometemos a continuar a investigar, a tornar essa investigação uma investigação nacional, internacional e a alertar a população das tentativas de derrubar a Lava Jato", afirmou.
Em entrevista à Reuters nesta semana, Lima disse que o acordo de delação da Odebrecht, que levou o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, a pedir ao Supremo Tribunal Federal (STF) a abertura de 83 inquéritos contra políticos com prerrogativa de foro junto ao Supremo, pode levar a até 350 novas investigações. [nL2N1GS1ST]
Parlamentares, ministros de Estado e o presidente da República têm prerrogativa de foro junto ao STF. Entre os nomes já vazados que estariam entre os alvos desses inquéritos estão seis ministros do presidente Michel Temer --entre eles o da Casa Civil, Eliseu Padilha, e o da Secretaria-Geral da Presidência, Moreira Franco--, além dos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE).
Foram citados ainda ministros do PSDB, como Aloysio Nunes (Relações Exteriores) e Bruno Araújo (Cidades) e o presidente do partido, senador Aécio Neves (MG).
Entre os políticos sem foro privilegiado que teriam sido citados na delação e foram alvos de pedidos para envio de instâncias inferiores da Justiça, estariam os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, do PT, e os ex-ministros de governos petistas Guido Mantega e Antonio Palocci.
(Reportagem de Eduardo Simões)